Rumo a Pasárgada…

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1) Como o senhor observa o movimento dos brasileiros que estão tentando a vida em Portugal nesse contexto de crise?

Lauro Moreira: Como algo muito natural. É interessante observar que até os anos de 1970, mais ou menos, o Brasil havia sido sempre um país de imigração, e não de emigração. O normal era recebermos imigrantes, sobretudo da Europa, do Oriente Médio e da Ásia. A partir de um certo momento, no entanto, diante da crise econômica por que passava o país na década de 80, uma boa quantidade de brasileiros começou a emigrar crescentemente para países como Estados Unidos, Portugal, Japão, França, entre outros. Hoje, é Portugal o destino preferido dos emigrantes brasileiros, não apenas em razão da crise econômica brasileira ou da facilidade da língua, mas por ser Portugal atualmente considerado um dos países mais aprazíveis para se viver e trabalhar em todo o mundo.

2. Como é o mercado de trabalho para o brasileiro em Portugal, de um modo geral?

Lauro Moreira: Em geral, muito favorável, para todos os perfis profissionais como médicos, dentistas, arquitetos, engenheiros, publicitários, empresários, garçons, motoristas, empregados do comércio etc.

3. E as oportunidades de estudo em termos de vida acadêmica?

Lauro Moreira: Felizmente esta é uma área em que se observa um crescente movimento, com grande número de estudantes brasileiros frequentando as principais universidades portuguesas.

4. O senhor acredita que existam condições favoráveis para esse cenário?

Lauro Moreira: Sim, sem dúvida. Portugal tem procurado facilitar ao máximo os trâmites burocráticos sempre presentes no processo imigratório.

5. Os brasileiros são bem vindos?

Lauro Moreira: A minha experiência de anos de contato profissional com Portugal, enquanto Embaixador do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (de 2006 a 2010), e de contatos informais e constantes com a sociedade local nos últimos sete anos, posso dizer com satisfação que sim, que os brasileiros são muito bem vindos naquela terra.

6. O idioma nesse caso é um fator preponderante?

Lauro Moreira: Como já disse antes, o idioma é um fator importante, mas não preponderante.

7. Como os mecanismos da CPLP podem ajudar nessa integração dos brasileiros à sociedade portuguesa?

Lauro Moreira: Este é um problema de não fácil solução. Na verdade, insisto sempre na tese de que a CPLP só alcançará seu sentido maior à medida que se transformar de fato numa Comunidade de cidadão lusófonos, e não apenas de Estados Membros. Mas são ponderáveis os obstáculos para que isso se alcance. E eu diria mesmo que o obstáculo maior para que haja uma livre e imprescindível movimentação em nosso espaço comunitário lusófono reside precisamente no caso português.. Ou seja, por integrar igualmente o espaço comunitário europeu, por ser membro pleno da União Europeia, Portugal não tem como decidir sozinho, autonomamente, sobre a questão da circulação de cidadãos estrangeiros em seu território nacional, que é por definição, neste aspecto, um território comum da União Europeia. Sendo mais explícito: um cidadão angolano ou moçambicano, por exemplo, não pode prescindir de um visto de entrada para visitar Portugal, por força do estabelecido nos Acordos da UE. O que se tem procurado fazer nesses casos é abreviar o mais possível o prazo de concessão desses vistos.

8. A cidadania lusófona ainda é um sonho distante, quais seriam as novidades nesse terreno?

Lauro Moreira: Vejo a plena integração lusófona como algo ainda um pouco distante, mas plenamente realizável. Cinco séculos de uma história comum, de um diálogo intercultural e interétnico acabou por formar um patrimônio imaterial de extraordinária riqueza, lastreado em uma língua que só faz multiplicar-se por um número crescente de usuários e espalhar-se por todos os continentes. A terceira mais falada do mundo, a primeira do hemisfério sul. Esse patrimônio constitui a garantia maior de uma futura plena integração lusófona.

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