Romance sobre rainha angolana Ginga

O escritor angolano José Eduardo Agualusa disse à Lusa que vai publicar em 2014 um romance sobre a célebre rainha Ginga, que será “uma visão pessoal” a respeito de uma das figuras mais fascinantes da história angolana.

A rainha Ginga, de nome oficial Sousa N’Jinga M’Bandi, viveu no século XVII durante um período em que vingou o tráfico de escravos em África e também nos reinos do Ndongo e de Matamba, numa altura em que começava a despontar o poder dos portugueses na região.

Os seus pais, Nzinga a Mbande Ngola Kiluanje e Guenguela Cakombe, bem como um seu irmão, então régulo de Matamba, revoltaram-se contra o domínio português em 1618, mas a rebelião foi vencida pelas forças dirigidas por Luís Mendes de Vasconcelos capitão das armadas do Oriente e governador de Angola entre 1617 e 1621.

“É a minha visão”, disse José Eduardo Agualusa, formado em agronomia e silvicultura, em entrevista à Agência Lusa, em Lisboa.

“A minha rainha Ginga será sempre a minha rainha Ginga. Não é uma outra”, afirmou o autor do romance “Teoria geral do esquecimento”, que se afirmou “muito entusiasmado” com a produção do livro sobre a vida da rainha dos reinos do Ndongo e de Matamba, no sudoeste de África,

Sem entrar em pormenores sobre o livro, que deverá ser publicado no próximo ano, o escritor e jornalista angolano assinalou à Lusa o seu interesse pela rainha cuja vida foi recentemente adaptada para o cinema.

“Acho que o que me interessa nela é o fato de ser uma figura muito à frente do seu tempo, que estaria sempre, em qualquer momento histórico, à frente do seu tempo, porque ela pensava pela sua cabeça. Acho que isso é o mais interessante. Era uma mulher que não se deixava subjugar pelas ideias dos outros, tinha ideias próprias”, considerou.

O reinado da lendária figura angolana, que dirigiu as suas tropas de Jagas, consideradas uma seita cruel, durou 40 anos, 30 dos quais foram de resistência à dominação portuguesa.

Durante muito tempo, a rainha Ginga foi tida como anticristã obstinada da África Central, antes de se converter ao catolicismo.

“Ela vivia o seu próprio universo, impunha a sua maneira de ser. Ela foi rainha quando não devia ser rainha, inclusive se intitulou como rei, não se assumia como rainha. Mesmo num mundo e numa época onde a mulher não podia ter certos papéis, para ela isso não contava muito, ela fez aquilo que achava que tinha que fazer”, disse José Eduardo Agualusa.

Agualusa, que falava no final de uma cerimónia de homenagem a Mia Couto, escritor moçambicano, considerou que “para se compreender o presente é sempre bom saber alguma coisa do passado”, pelo que as leituras que tem vindo a fazer para produzir o livro estão a ajudá-lo a compreender melhor Angola do presente.

“Acho que Angola do presente ainda é uma Angola com muitas sequelas do período da escravatura. Por exemplo, a relação entre a capital e o campo, tudo isso tem muito a ver com este passado histórico de Angola. Eu próprio vou aprendendo, enquanto escrevo. Acho que eu escrevo para compreender. Este livro está a ajudar-me a compreender melhor Angola do presente”, admitiu o romancista.

MMT // APN – Lusa/Fim

Foto: Escritor angolano José Eduardo Agualusa,  22/05/2003. ANDRE KOSTERS/LUSA

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