Reitor da universidade pública timorense diz ter capacidade para absorver mais alunos

Díli, 19 fev (Lusa) – O reitor da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL) defendeu hoje o ingresso de quase 6.800 alunos pelo regime especial, dizendo que isso cumpre a “política social” da instituição, especialmente face aos veteranos da luta contra a ocupação indonésia.

“Temos capacidade. A decisão foi tomada pelo Conselho de Gestão e Chefias (…) e foi decidido unanimemente”, afirmou Francisco Miguel Martins, em declarações à Lusa.

O reitor disse que a UNTL respeitará a decisão do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Cultura (MESCC) – que “determinou politicamente” que o máximo de alunos ingressos neste regime será de 1.066 – admitindo dificuldades para agora escolher os que entram ou não.

“Eu disse ao senhor ministro para cortar como quiser. Ele disse que cabe a nós. Mas ainda não encontrámos um caminho para decidir quem fica e quem não fica”, explicou.

Os candidatos são registados sem referência a qual dos subgrupos abrangidos pelo regime especial pertencem, pelo que, acrescentou o reitor, não se conseguem distinguir.

“Eles vieram com os documentos completos. Os filhos de veteranos e veteranos vieram com a declaração da Comissão de Homenagem, os filhos de mártires também”, disse, justificando o número total de 6.798 candidatos.

“Apresentámos este número ao ministro porque este é um canal especial, é uma decisão política, uma responsabilidade social da UNTL face à comunidade, relativamente a quem lutou durante muitos anos contra a ocupação indonésia”, afirmou.

Francisco Martins afirma que a UNTL “quer colaborar para resolver a questão do problema social” que pode ser causado por este tema a um “Governo que já tem muitos pesadelos”.

“Este problema social é muito grande. Quando não se satisfaz a sociedade, os filhos dos veteranos, eles vão reclamar e se reclamarem o Governo vai ter dores de cabeça. Nós temos capacidade e queremos ajudar a resolver isso. Queremos evitar estas confrontações”, disse.

O reitor falou à Lusa no contexto de um diferendo entre o Governo e a UNTL sobre o número de vagas para novos alunos do regime especial, com a instituição a querer admitir quase seis vezes mais candidatos do que o acordado.

O MESCC considera a posição da UNTL “praticamente insustentável”, com as nove faculdades da instituição sem capacidade para acolher tantos novos alunos.

A polémica centra-se em torno do regime especial que abrange vários subgrupos de potenciais estudantes, incluindo os melhores classificados nos exames secundários, desportistas de Alto Rendimento, oficiais das forças de segurança e cidadãos com deficiência ou mobilidade reduzida.

Abrange ainda diplomatas e familiares, alunos de escolas internacionais, maiores de 23 anos com o ensino secundário incompleto e “veteranos e filhos de veteranos ou mártires menores de 23 anos, que representam quase um terço do total do regime especial”.

O manual de admissão determina que o “Canal B ou Regime Especial” aplica-se a “candidatos que se encontram em situações excecionais” e abrange 15% das vagas totais.

O reitor explicou que só desde que assumiu funções, em 2016, é que se começou a regulamentar o processo do regime especial – projeto piloto desde 2014 -, no intuito de ajudar a UNTL a cumprir “a sua responsabilidade social”.

“É uma política de responsabilidade social da UNTL face à sua comunidade. No tempo da resistência muitos de nos foram marginalizados pelos indonésios. Filhos de Fretilin, de outros grupos de resistência, que não tinham acesso”, disse.

O reitor baseia os seus argumentos na matemática dos números de alunos, docentes, salas de aulas e outras infraestruturas universitárias, insistindo que a UNTL tem capacidade para absorver os 6.798 alunos.

Oficialmente, no arranque deste ano a UNTL tinha 28.653 alunos inscritos, sendo que apenas 13.628 completaram a matrícula para continuar os estudos em 2019.

Segundo explicou, a UNTL tem atualmente 481 docentes e investigadores nacionais e 52 internacionais, somando nos seus vários campus em Díli, Hera (leste da capital) e Betano (sul do país), um total de 126 salas e nove bibliotecas.

O reitor argumenta que tendo em conta o número de docentes, mesmo com a admissão de todos os candidatos propostos pelo regime especial, a UNTL ficaria com um rácio de 43 alunos por docente, “dentro do padrão internacional de 35 a 45”.

As contas baseiam-se na soma dos alunos que estão já inscritos de anos anteriores e que se matricularam (13.628) mais os admitidos pelos regimes geral e de oportunidade (2.389) e os que registaram a sua candidatura no regime especial (6.798).

“Cada docente teria que dar quatro aulas por dia. Não ultrapassamos a escala internacional”, afirmou.

ASP // VM – Lusa/Fim
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