Brasília, 30 mai (Lusa) – A Companhia das Letras, editora do escritor brasileiro Raduan Nassar, vencedor do Prémio Camões 2016, considerou hoje que a atribuição consagra o escritor como “um dos mais altos momentos da nossa língua”.
Numa nota à imprensa, a editora escreveu que “a distinção consagra o paulista de Pindorama (1935) como um dos mais altos momentos da nossa língua”, considerando o prémio “mais do que merecido”.
“Com uma obra absolutamente imprescindível”, construída com o romance “Lavoura arcaica”, a novela “Um copo de cólera” e as histórias de “Menina a caminho”, “Raduan tornou-se um clássico instantâneo”, logo em 1975, quando publicou o romance de estreia, lê-se no texto enviado pela editora brasileira do autor.
Para a Companhia das Letras, nessa obra do paulista, que constitui “um marco”, “estavam os elementos de uma arte poderosa, que trabalhava o idioma de forma olímpica e poética, tratava das relações familiares e dos afetos, recontava, de forma subtil, a trajetória da imigração e expunha a tensão (social, cultural, emocional), entre o campo e a cidade”.
“Com o Prémio Camões, Raduan fica ao lado de outros grandes de Brasil e Portugal, como João Cabral de Melo Neto, José Saramago, Jorge Amado, Antonio Candido [de Mello e Sousa], Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Mia Couto e outros formidáveis criadores de mundos e de palavras em nossa língua”, segundo a nota.
Os responsáveis da Companhia das Letras manifestaram ainda “o seu imenso e imorredouro orgulho pelo privilégio de publicar as obras de Raduan Nassar”.
Antes, num contacto com a agência Lusa, o escritor, de 80 anos, surpreendido com a atribuição do prémio, recusou-se delicadamente a prestar declarações, pedindo desculpa.
O júri, que atribuiu o prémio por unanimidade a Raduan Nassar, justificou que o autor “revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso”.
“Muitas vezes, essa revelação é agreste e incómoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu”, lê-se na ata do júri.
Raduan Nassar é descendente de uma família libanesa, estudou Direito e Letras na Universidade de São Paulo, onde concluiu a sua formação académica em Filosofia.
Em Portugal, Raduan Nassar foi publicado apenas em 1999, quase década e meia após a edição de “Lavoura Arcaica”, quando o romance surgiu no catálogo da Relógio d’Água, com um estudo de Sabrina Sedlmayer.
Seguiu-se, pouco depois, em 2000, a coletânea de contos “Menina a caminho”, na editora Livros Cotovia, que, em 2003, recuperaria o autor para a antologia de contos “Fotografia de grupo”, de vários autores.
O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, e atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor Miguel Torga (1907-1995).
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