Racordai pa S. Silvestre

Por certo, as Janeiras terão ido com os marinheiros e os povoadores portugueses, no início da colonização das ilhas. No entanto, dado curioso é que esta tradição ganhou raízes mais profundas nas ilhas do Norte (S. Nicolau, Santo Antão, Sal, S. Vicente e Boa Vista).

Ao longo dos tempos esta tradição caracterizou o Natal destas ilhas, dando-lhe um tom particularmente bucólico, com grupos de novos e velhos saindo pelas ruas, casas, tocando violão, cavaquinho e chocalho. As famílias abrem as portas de suas casas, convidando-os a entrar e a comer e a beber da mesa posta.

Nas zonas rurais, dá-se o que se tem, de dinheiro a grogue ou em géneros. O álcool consumido neste trajecto começa a fazer efeito e a festa vai subindo de tom, pela noite dentro. Nas cidades, principalmente em Mindelo, as casas mais abastadas do centro são percorridas por vários grupos. Um dos mais conhecidos é conhecido pelo “Grupo da Paridinha”, da zona da Praça Nova, e que existe desde 1980, formado por várias gerações.

Uma pequena multidão entra pelas casas, acotovelando-se na sala, comendo e bebendo nas pausas da cantiga.
É aqui que “Jorge”, o tesoureiro do grupo, recolhe o donativo, enquanto o grupo entoa graças e deseja prosperidade à família anfitriã. Segue-se outra e outra casa, numa festa que dura até para lá das 2h00 da manhã.

Ainda em Mindelo, com o dinheiro recolhido, o grupo promove uma festa, logo depois do Ano Novo, para consumir tudo o que sobrou das festas e foi comprado com o dinheiro recolhido pelo “Jorge” (de boa consciência).

Recordai

Eu venho aqui dar as boas festas
ali ness casa do senhor e da senhora
Eu quer saber se a senhora é mulher honrada
para correr mão la na chão bom baú

Ó dá, ó dá, si bo tita dá
Se bo ca ti ta dá, m ta txama Jorge para ramêdêb

Porque Jorge ê um homem de má consciência
ondê quel bai el tra más el ta txa menos

Aloa sinha já somá três cabaler
eu quero saber que cabalers são aqueles
Um é Belchior, outro é Melchior outro é Baltazar
Pedi Deus nô senhor vida e saúde pa no torna ben


(Popular)

Racordai pa S. Silvestre

Hoje é fin d’one
O gente no bem festejal
C’nos morabeza
No bem goza dess dia

Sonte di fin d’one
Ja p’di ké pa no honral
Na força di nos tradiçon
No ta perpetua ess alegria

Recordai recordai
Senhor Son Silvestre
No bem da Boas Festas pa tud gente
No bem da Boas Festas pa Cabo Verde

O k’sinfonia la na Baia
Oh irmon c’ma m’ta feliz
O k’sintonia num melodia
Cantode na som di mil voz
E o q’note
Tão doce e colorida

(Teófilo Chantre)

 

Foto: Cabo Verde: Antonio Cabral, mais conhecido por “Ntoni Denti D’oru” tocando batuque. FOTO FRANCISCA LEAL/LUSA

Fonte: SAPO

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