Rio de Janeiro, 02 nov (Lusa) – A quarta edição da Festa Literária das Periferias (FLUPP), que aposta em aproximar autores e leitores e fomentar o gosto pela leitura, sobe terça-feira ao complexo das favelas da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro.
A ideia de um evento literário realizado nas comunidades surgiu da vontade dos escritores brasileiros Ecio Salles e Julio Ludemir, que se inspiraram na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).
O complexo Babilônia/Chapéu Mangueira, no bairro do Leme, Zona Sul, foi um local de confrontos constantes entre a polícia e traficantes antes da instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora, em 2009.
A partir de então os comerciantes locais puderam explorar o potencial turístico do morro, que dispõe, atualmente, de vários ‘hostels’, onde os escritores e poetas participantes da FLUPP, originários de 21 países, vão se hospedar.
Do morro, onde no século XVIII os colonizadores portugueses construíram uma fortificação para vigiar a entrada da Baía de Guanabara, é possível apreciar uma vista espetacular que inclui a orla de Copacabana e o Pão de Açúcar.
A FLUPP abriu as portas logo em maio, com a FLUPP Pensa, uma programação complementar que inclui visitas de autores a escolas públicas nas cidades de Duque de Caxias, Itaboraí e Rio de Janeiro.
Nesses encontros participaram a escritora e jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho, o queniano Ngugi wa Thiong’o, considerado pela crítica um dos maiores escritores africanos vivos, o escritor e sambista brasileiro Martinho da Vila e a ex-presidente da Academia Brasileira de Letras Ana Maria Machado, entre outros.
Segundo a programação, os becos e ladeiras do morro vão assistir esta semana ao II Rio Poetry Slam, uma competição internacional de poesia falada que inclui a portuguesa Raquel Lima, a angolana Elisângela Rita, o ganês Kwame Aidoo e o sul-africano Richard Rodriquez Roodt.
“A poesia, esse género que alguns julgam em extinção, ganhou um novo vigor, um novo público pelo mundo com a disputa do poetry slam”, disse à Lusa Julio Ludemir.
“Prova disso é que os três primeiros lugares da competição do ano passado foram vencidos por negros, que não são considerados, propriamente, porta-vozes da poesia clássica”, acrescentou.
A FLUPP ainda vai contar com a ação “De porta em porta”, em que voluntários visitam 450 casas do complexo para ler para crianças e adolescentes; o “Sarau Peripatético”, um cortejo de poetas pelas ruas das duas comunidades; e “Poemas para viagem”, poetas que ficarão à disposição para escrever durante a hora do almoço.
Outros nomes que participarão na FLUPP são o escocês Alan Campbell; o francês Caryl Férey; o brasileiro Amyr Klink – navegador que atravessou o oceano entre o Brasil e a África num barco a remo e contou a aventura no ‘best seller’ “Cem Dias entre Céu e Mar” – e o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que divulgou no jornal britânico The Guardian as informações de Edward Snowden, ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos EUA, sobre os vários programas que constituem o sistema de vigilância global daquela agência de inteligência norte-americana.
Quanto à pequena presença de escritores portugueses, Julio Ludemir lamenta: “É apenas uma circunstância, transformar a FLUPP num festival lusófono não seria má ideia”, salientou.
A festa literária prossegue até ao próximo domingo, numa iniciativa que conta com o apoio de entidades públicas e privadas.