Projeto Imersão Cultural leva à Guiné-Bissau brasileiras em busca das origens

Bissau, 11 mar 2024 (Lusa) – Cinco cidadãs brasileiras estão na Guiné-Bissau em busca das suas origens ancestrais, que acreditam ser deste país africano, onde, contaram à Lusa, estão a “sentir-se em casa”.

Oriundas de diferentes estados do Brasil, as cinco mulheres estão na Guiné-Bissau no âmbito do projeto Imersão Cultural, criado pelo ex-estudante guineense em terras de Vera Cruz Venssan Ialá.

“É um projeto que visa trazer pessoas não guineenses para conhecerem a Guiné-Bissau. Começamos agora com essas mulheres brasileiras, no futuro já temos confirmado, para outubro ou novembro, trazer mais 15 pessoas”, afirmou à Lusa Ialá, que cursou letras no Brasil e por lá vive há 13 anos.

A visita à Guiné-Bissau para as cinco mulheres, que ainda vão a Cacheu, no norte, e às ilhas Bijagós, “tem excedido todas as expectativas”, permitindo conhecer lugares que Silvana Marques da Silva, professora de História, reformada, “sempre quis conhecer”.

Silvana, que atualmente se dedica à educação de surdos, como intérprete em eventos culturais, disse à Lusa estar feliz por estes dias “a viver na África mãe do Brasil e dos brasileiros”, num convite que lhe foi feito por uma amiga “também apaixonada pela África”.

“É uma felicidade enorme estar conhecendo as raízes, o baobá, as plantas, o cheiro, os monumentos, a história, uma cultura muito bonita, muito vibrante”, enfatizou Silvana Silva, após duas horas de danças na sala de espetáculos dos Netos de Bandim, atualmente o mais emblemático grupo cultural da Guiné-Bissau.

Paola Cabreira Duarte, psicóloga que trabalha com transtornos invasivos de crianças com autismo, não cabia em si de “tanta felicidade” por finalmente poder vestir a famosa “saia budjugu” – uma saia feita de palha seca que é utilizada por mulheres daquela etnia do arquipélago dos Bijagós.

Paola, ligada também a uma escola da Capoeira, já conhecia o trabalho dos Netos de Bandim, numa das atuações que realizaram em São Paulo, mas sempre quis atuar ao lado do grupo que personifica as danças típicas das etnias da Guiné-Bissau.

“É um sonho estar vestida com a ‘saia budjugu’. Gosto muito da culinária de guineenses, da garra, da alegria do seu povo”, afirmou Paola, confessando que se sente em casa num país que visita pela primeira vez, mas onde acredita já ter vivido “noutra vida”.

Dos lugares já visitados, em que se incluem o hospital Simão Mendes ou o Museu da Luta Armada, a Guiné-Bissau leva Paola a “ficar em êxtase” de cada vez que tenta explicar o que tem sentido nestes dias, que a vão levar ainda a conhecer o Museu da Escravatura em Cacheu e as ilhas Bijagós.

Cacheu é o lugar de onde partiam navios negreiros com pessoas escravizadas apanhadas ou compradas na costa da África Ocidental para países do “novo mundo”, entre os quais o Brasil.

Educadora Social, gerente de igualdade social na prefeitura de Aracaju, no estado de Sergipe, Tati Menezes considera a viagem à Guiné-Bissau como “a descoberta da ancestralidade”, salientando que está a ser “acima da média”.

Tati disse que a viagem a faz fortalecer a sua identidade e a sua autoestima e deu o exemplo do que viu no hospital Simão Mendes, em Bissau: “Ver monte de médicos, de pessoas no lugar de poder, de gerência, de coordenação, todas negras, é extremamente forte, porque no Brasil esses lugares são ocupados por pessoas brancas”.

MB // MLL – Lusa/Fim

Grupo Folclórico “Netos de Bandim”
da Guiné-Bissau
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