Santiago de Chile, 15 out (Lusa) – Professores de português de vários pontos do globo partilharam experiências e métodos de ensino no primeiro “Congresso Internacional de Língua Portuguesa: Experiências culturais e linguístico-literárias contemporâneas”, que decorreu quinta e sexta-feira em Santiago de Chile.
Em declarações à agência Lusa, Vera Fonseca, leitora do Instituto Camões no Chile, relatou que o evento “foi interessante”, porque “várias pessoas falaram das suas realidades de ensino” e houve “troca de experiências relativamente a cada um dos países”, com profissionais que já lecionaram em Macau, Peru, Brasil, entre outras regiões.
Através desse diálogo, acrescentou, foi possível “ver quais as metodologias que estão a ser utilizadas na área da didática e que tipo de manuais é que funcionam”, também “em função dos públicos”.
Vera Fonseca deu o exemplo de docentes da Universidade de São Paulo, no Brasil, que “recebem alunos estrangeiros no local e que realizam aulas também em visitas guiadas ao património” da cidade.
O congresso internacional foi organizado em conjunto pelo Instituto Camões, Universidade de Santiago de Chile (USACH) e Rede Brasil Cultural, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Vera Fonseca manifestou-se satisfeita com a afluência de participantes, cerca de 150 pessoas, mais do que o esperado, e admitiu que o evento pode vir a repetir-se daqui a dois anos.
Para a professora, o facto de o congresso ter contado com dois escritores de países lusófonos distantes – o português José Luís Peixoto e do angolano Ondjaki – num país com proximidade geográfica ao Brasil, pode ter contribuído para mostrar que a língua portuguesa é uma ponte de acesso a um mundo diverso e conectado.
A realização de “mais atividades em que possam estar presentes pessoas que estejam a trabalhar, neste caso na área da literatura, nestes países” ajuda a atrair “mais o conhecimento acerca do que é a lusofonia”, para além dos livros traduzidos que aqui chegam, advogou.
Ainda assim, Vera Fonseca destacou que “não deixa de ser significativo” o caso do livro “Galveias”, de José Luís Peixoto, que foi traduzido para o castelhano por uma editora chilena.
Segundo a editora, explicou a professora, “há uma certa ressonância entre os personagens daquele livro”, cuja história se passa numa pequena aldeia do Alentejo, com algumas personagens do universo rural do Chile, sendo esse o elemento de ligação com a realidade do país.
Durante o congresso, foi ainda referido o trabalho que está a ser feito no sentido de criar uma área de formação na Universidade de Santiago de Chile para professores de português como língua estrangeira, tendo em conta também o crescente número de institutos privados a lecionar a língua de Camões no país.
Num país onde “o ensino de língua estrangeira acaba por estar muito focado no inglês”, é necessário trabalhar no sentido de “trazer o português para o ensino anterior à universidade”, com vista também a “estabelecer uma maior comunicação” entre os países de língua oficial espanhola e o Brasil na América do Sul, defendeu.
“Tem havido discussões nesse sentido”, mas ainda falta um “discurso politico e público” sobre essa necessidade, num país onde “o mercado sente a necessidade de saber falar português”, sublinhou.