A Prof. Doutora Annabela Rita, membro do Conselho Diretivo do OLP-Observatório da Língua Portuguesa foi recebida como Académica Honorária eleita com imposição do Colar Académico e outras insígnias, pela Academia Portuguesa da História
E disse, no seu discurso de tomada de posse:
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A minha matéria de trabalho é, de facto, a Literatura. Mas…
Falar de Literatura implica evocar acordos e desacordos e refletir sobre matéria eminentemente metamórfica. No fundamental, é uma das instâncias de manifestação/expressão da identidade cultural de uma comunidade que a elabora e cultiva, instância singular, altamente elaborada e condicionada pelos códigos estéticos.
Todos concordamos com o facto de que a Literatura é linguagem e comunicação, mas com diferença e especificidade constitutivas. Cristalização cultural e sistema hipercodificado por convenções específicas cujas insígnias os iniciados tendem a reconhecer e que influem na criação e na leitura: pluralidade e mutabilidade semântica, assimetria comunicativa (presença vs. ausência), de géneros, de programas estéticos (escolas, movimentos, etc.), de referências que lhe (re)compõem o cânone e a memória (autores e obras), de funções, etc.. No centro, o Cânone, espécie de panteão dos representativos, das referências, da constelação da nossa memória estética.
Ora, é aí, rigorosamente aí, que a identidade cultural e a estética se cruzam num casamento harmónico. Ou a obra poderia ter efémero (in)sucesso, não resistindo ao teste do tempo. A Literatura é, aí e por aí, um dos espelhos a que se “mira” (Almeida Garrett) a comunidade imaginada entre realidade e mito: instância de cristalização identitária com hipercodificação estética. Lugar antropológico.
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