“Mesmo modesta como está, continua a ser um ex-líbris de Macau. É a mais bonita e elegante e continua a servir, na medida do possível, os transportes públicos, com o trânsito atenuado. Mas é percussora: fez com que tudo o restante fosse acontecendo. Foi o primeiro passo para o desenvolvimento integrado” do território, disse o arquiteto José Maneiras à agência Lusa.
Para José Maneiras, a travessia, conhecida como a velha ponte, “deu também o desenvolvimento propriamente dito à ilha da Taipa, a urbanização, pondo-a no mapa. Os territórios estavam muito desequilibrados, concentrava-se tudo na península de Macau”, desde a população, aos automóveis, até às indústrias e à hotelaria.
A obra, apontou José Maneiras, demonstra o “elevado nível” de Edgar Cardoso, “um dos grandes engenheiros portugueses, especialista de craveira mundial em pontes”.
A seu ver, foi “um feito muito grande” erguer uma estrutura fina que, “apesar da sua aparente fragilidade”, tem provado ter resistência nomeadamente para o clima de Macau, sujeito a adversidades como grandes tufões. Além disso, “fez a ponte mais economicamente possível”.
O arquiteto recorda os tempos em que ia de barco para a outra margem, até uma Taipa, “vilória, quase rural”. Com a ponte, foi imposta uma portagem inicial de cinco patacas (0, 49 euros ao câmbio atual), posteriormente levantada. Em 2007, a travessia ficou reservada aos transportes públicos.
Com 2.569 metros de comprimento, duas faixas de rodagem e uma largura de nove metros, “foi uma euforia para a gente de Macau”, recorda José Maneiras, sublinhando que a velha ponte sempre foi a “preferida”, mesmo com o advento de novas ligações, uma vez que faz “a ligação direta entre o centro de Macau e a Taipa”.
Seria preciso esperar quase 20 anos para se descerrar uma lápide de nova travessia – a Ponte de Amizade – inaugurada pelo então primeiro-ministro português, Cavaco Silva. Já em 2004 surge a terceira ligação: a Ponte de Sai Van – com 2.200 metros de comprimento e 28 metros de largura, seis faixas de rodagem (três em cada sentido) no piso superior e quatro no inferior, um tabuleiro coberto, que permite a circulação durante tufões e com condições para receber o metro ligeiro.
Mas a 05 de outubro 1974, data da inauguração da ponte velha, tudo era diferente.
“Para toda a população portuguesa e chinesa, a ponte Macau-Taipa é bem o símbolo do futuro de Macau”, disse o governador Nobre de Carvalho, que deu o nome à travessia.
A ponte, refere o jornal, constitui o “mais importante e grandioso acontecimento” que veio materializar “uma das mais antigas e maiores aspirações da população desta província”.
“Essa forte estrutura de ferro e cimento que liga Macau às suas Ilhas será a firme certeza de que se irá iniciar uma nova era de progresso que é o mais ardente anseio de duas comunidades”, lê-se no Notícias de Macau, cuja manchete de 07 de outubro de 1974 diz: “E o sonho tornou-se realidade!”
Na inauguração, Edgar Cardoso também se mostrou emocionado: “Esta grandiosa obra frente a nossos olhos (…) é para nós, por múltiplas razões, uma das mais apaixonadas criações de toda a nossa atividade profissional e científica”.
Nobre de Carvalho considerou a ponte uma “arrancada para o futuro”, classificando de “mero acidente” a atribuição do seu nome à primeira ponte, uma decisão que encarou como “homenagem” a todo o seu governo.
A travessia “será sempre – isso sim – a Grande Ponte de Macau” e “é, e será sempre, o símbolo da secular amizade luso-chinesa”, rematou.
DM // PJA – Lusa/Fim
Fotos: Ponte Governador Nobre de Carvalho, em Macau, uma obra do engenheiro português Edgar Cardoso, comemora este ano 40 anos da sua inauguração, China, 13 de outubro de 2014. CARMO CORREIA/LUSA