O Presidente da República defendeu hoje a necessidade de tirar partido da projeção crescente da literatura de língua portuguesa no estrangeiro e apontou a consolidação do espaço lusófono como “uma tarefa prioritária”.
“Há que saber exponenciar e tirar partido dessa realidade que é a projeção crescente da literatura de língua portuguesa no panorama internacional, onde se têm multiplicado as traduções e a curiosidade pela ficção em português, nas suas diversas tonalidades, nos seus vários modos de falar e de sentir”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, na cerimónia de entrega do Prémio Leya, que este ano foi atribuído a Nuno Camarneiro, pelo romance “Debaixo de algum céu”.
Numa intervenção curta, o Presidente da República não deixou de abordar o tema da lusofonia, defendendo que “num mundo em que as chamadas ´fronteiras espirituais’ se estão a impor crescentemente, a consolidação do espaço lúsofono deve ser uma tarefa prioritária”.
A este propósito, Cavaco Silva destacou o papel dos escritores na lusofonia, reconhecendo que sem eles “a lusofonia seria um projeto a que faltaria alma”.
“São os escritores que, através da sua imaginação e criatividade, mantêm uma língua viva. São eles que constroem e exprimem em palavras essas pontes imateriais que ligam as pessoas e os povos, cimentando identidades coletivas”, disse o chefe de Estado.
Por isso, acrescentou, uma política de promoção da língua portuguesa não poderá ignorar as obras literárias que se escrevem em português e que são “um dos seus principais veículos de projeção no mundo”.
A “importância” que Cavaco Silva tem atribuído à “lingua portuguesa e ao espaço da lusofonia” foi, aliás, sublinhando pelo presidente do júri do Prémio Leya, o socialista Manuel Alegre, que defrontou o atual chefe de Estado nas últimas eleições presidenciais.
Ausente da cerimónia esteve o escritor Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário do coronel Carlos Matos Gomes, um dos militares envolvidos no 25 de Abril de 1974, que declarou hoje, numa rede social, que não ia assistir à entrega do Prémio Leya, “de alma alegre e fato composto”, por ser presidida por Cavaco Silva.
Em declarações à Lusa, o autor de “Nó cego”, uma das primeiras obras de ficção a abordar a Guerra Colonial, afirmou que não podia estar presente neste ato, pois “a presença do Chefe de Estado evidencia um apoio à Cultura, quando na realidade, para o Estado, a Cultura nada conta – o Governo está a extorquir dinheiro a quem está empregado, não sobrando nada para a Cultura”.
“Ao Chefe de Estado cabe, a meu ver, apoiar a Cultura, a identidade nacional, o que não está a acontecer neste momento”, rematou o militar e escritor.
VAM/NL // PGF – Lusa/Fim
Fotos:
– O Presidente da República, Cavaco Silva (D), acompanhado por Manuel Alegre (C) e pelo vencedor do prémio LeYa, Nuno Camarneiro, durante a cerimónia de atribuição do prémio literário ao romance “Debaixo de algum céu”, realizada num hotel da capital, Lisboa, 8 de maio de 2013. ANDRE KOSTERS/LUSA
– O Presidente da República, Cavaco Silva (D), entrega o prémio LeYa 2012 a Nuno Camarneiro, ANDRE KOSTERS/LUSA