Prémio a tradução francesa de obra de António Lobo Antunes

Paris, 15 out (Lusa) – A tradução francesa do livro “Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?”, de António Lobo Antunes, foi hoje distinguida, em Paris, com o Prix Gulbenkian Books da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian.

Esta foi a primeira edição do prémio que distingue a melhor tradução de português para francês de uma obra de literatura em língua portuguesa, publicada em França nos últimos dois anos, sendo atribuído em parceria com a revista literária Books.

O júri decidiu distinguir Dominique Nedellec, o autor da tradução “Quels sont ces chevaux qui jettent leur ombre sur la mer”, editada em 2014 pela Christian Bourgois éditeur, pelo “brio com que recriou em francês a prosa tão densa e sinuosa de Lobo Antunes, a sobreposição de vozes, as palavras e os pensamentos das suas personagens torturadas”, declarou Suzi Vieira, membro do júri, durante o anúncio do prémio.

“Esta tradução, que considerámos admiravelmente fiel, conseguiu recriar a polifonia do romance e também o ritmo e estrutura musical em que se baseia a arquitetura da sua obra”, justificou a porta-voz do júri, também jornalista na revista Books.

Dominique Nedellec, que acaba de entregar a sua quinta tradução de um livro de Lobo Antunes à sua editora, disse à Lusa que o prémio é “um incentivo para continuar a trabalhar em prol da genialidade da língua portuguesa e, neste caso, da genialidade de um autor único”, sendo também “uma marca de reconhecimento do trabalho que mostra que as pessoas estão atentas” ao que fazem os tradutores “na sombra”.

“Traduzir Lobo Antunes exige da parte do tradutor esquecer as referências de leitura que cada um de nós tem para se introduzir no universo e na língua dele, porque ele está a escrever numa língua que não é a língua canónica, que não é a língua normal. Ele está a criar uma língua muito pessoal, sui generis, muito peculiar. O meu objetivo é recriar na minha língua, o francês, a mesma estranheza, a mesma violência que ele introduz na língua portuguesa”, acrescentou Dominique Nedellec que também já traduziu para francês várias obras de Gonçalo M. Tavares e de outros autores de língua portuguesa como Alice Vieira, José Jorge Letria ou Ondjaki.

A publicação do novo romance de António Lobo Antunes, “Da natureza dos deuses”, foi anunciada pelo Grupo Leya/Publicações D. Quixote para o próximo dia 20.

Na lista finalista das 50 obras apresentadas ao concurso Gulbenkian Books, publicadas em 2013 e 2014, constavam uma outra tradução de Dominique Nedellec, “Journal de la chute”, editada por Buchet-Chastel e traduzida de “Diário da Queda”, do escritor brasileiro Michel Laub, assim como a tradução feita por Élisabeth Monteiro Rodrigues, “Pluie ébahie”, a partir de “Chuva Pasmada”, do moçambicano Mia Couto, e editada pelas Editions Chandeigne.

O júri atribuiu uma menção especial à tradução de dois “clássicos das letras portuguesas”: “Le livre des nostalgies” (“Menina e moça”), de Bernardim Ribeiro, traduzido por Anne Marie Quint et Maryvonne Boudoy e publicado nas Editions Chandeigne, e “La Correspondance de Fradique Mendes” (“A correspondência de Fradique Mendes”), de Eça de Queirós, traduzido por Marie-Hélène Piwnik e publicado pelas Éditions de la Différence.

O júri era composto por personalidades portuguesas e francesas do mundo académico e literário, nomeadamente o poeta Nuno Júdice, a escritora francesa Maylis de Kérangal, a professora associada da Université de Paris-Sorbonne Paris IV Maria-Benedita Basto, o titular da cátedra Lindley Cintra na Universidade Paris Ouest-Nanterre José Manuel Esteves, o ensaísta alemão Sébastien Lapaque, a especialista em literatura lusófona Jacqueline Penjon e a jornalista da revista Books Suzi Vieira.

O objetivo do prémio Gulbenkian Books, no valor de 10.000 euros a dividir entre o editor e o tradutor, é promover a tradução de obras de língua portuguesa em França.

A iniciativa deverá repetir-se de dois em dois anos e o seu lançamento insere-se no programa do cinquentenário da Gulbenkian de Paris, o qual vai ter como pontos altos uma retrospetiva, no Grand Palais, da obra de Amadeo de Souza-Cardoso, entre abril e julho de 2016, e uma mostra sobre os últimos 50 anos da Arquitetura Portuguesa, na Cité de l’Architecture et du Patrimoine, de abril a agosto do próximo ano.

CAYB // MAG – Lusa/fim

 "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?"

 

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