Português, língua de criação e de circulação científica

Aula Magna da Reitoria, em Lisboa, 29 de outubro de 2013

Os especialistas ouvidos no âmbito da 2.ª Conferência da Língua Portuguesa no Sistema Mundial consideram que a aposta no português como língua de criação e de circulação científica é premente, sobretudo numa altura em que a predominância do inglês também já se reflete nas publicações internacionais produzidas nos países do espaço lusófono.

O objetivo não passa, contudo, por competir com o inglês, “que é “sem contestação a principal língua ativa na produção de ciência, cultura e conhecimento”, mas antes por “não entregar mais pontos e defender” a língua portuguesa, disse à agência Lusa Ivo Castro, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro da comissão científica da conferência.

Trata-se de “não deixar que se agrave aquilo que sentimos como um desequilíbrio entre o predomínio do inglês”, precisou.

Dados divulgados na conferência de Lisboa demonstram que a produção científica aumentou em quase todos os países lusófonos entre 2002 e 2012, com exceção de Timor-Leste e São Tomé.

Especial destaque vai para Moçambique, que segundo os dados da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC), registou nesse período o maior aumento no número de publicações indexadas nas bases de dados de referência internacional entre os países africanos de língua portuguesa.

Apesar da “evolução positiva” da produção científica no espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), os especialistas lembram que a maioria dos investigadores lusófonos decide publicar os seus trabalhos em inglês, sobretudo por uma “questão de visibilidade”.

Quase 90% das publicações científicas lusófonas contempladas na “Web of Science” estão em inglês, contra 9, 9 % em português, segundo os dados da DGEEC.

Mas esse “desequilíbrio” é mesmo visível em bases de dados como a “SciElo”, uma plataforma que junta países da América Latina, Caraíbas, Espanha e Portugal – e que dá especial visibilidade internacional à produção científica em espanhol e português.

“Só 53, 1% das publicações ali referenciadas estão de facto em português, contra 44, 5% em inglês e 2, 4% em outras línguas”, precisou Cristiana Agapito, da DGEEC, para quem esta realidade só poderá ser alterada se houver “uma aposta na qualidade da produção científica e nas revistas científicas lusófonas”.

“Se ganharmos um espaço e uma credibilidade externa, acho que o português também passará a ser consultado por muita gente”, considera.

A criação de bases terminológicas comuns aos vários países da CPLP, nos domínios técnico e científico, ou o incentivo à publicação de tradução técnica do português para outras línguas e vice-versa foram uma das inúmeras medidas apontadas pelos especialistas ouvidos.

“Tudo isso permitiria uma certa ‘reabilitação’ do português como língua de criação e de circulação científica”, vincou João Veloso, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

SK // VM – Lusa/Fim

Foto: O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete (C) acompanhado pelo Secretário Executivo da CPLP, Murade Isaac Miguigy Murargy (E) e pelo reitor da Universidade de Lisboa, António Manuel da Cruz Serra (D), à chegada parta participar na 2.ª Conferência sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, que reúne, até dia 30 de outubro, especialistas e responsáveis políticos e institucionais provenientes de diversos países, na Aula Magna da Reitoria, em Lisboa, 29 de outubro de 2013. JOAO RELVAS / LUSA

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