“O país não pode, neste contexto difícil de crise e ajustamento, desprezar os valores que tem para se continuar a afirmar como uma potência de pequena dimensão, mas com influência e vetores de afirmação muito significativos. Um desses vetores é a língua portuguesa e a relação privilegiada que, através da língua portuguesa, o país projeta para o futuro na sua relação com algumas das regiões mais dinâmicas da economia mundial”, disse Luís Amado.
O ex-chefe da diplomacia falava perante uma plateia de estudantes, diplomatas e académicos no I Congresso Internacional de Língua Portuguesa, uma iniciativa conjunta da Universidade Lusíada e do Observatório da Língua Portuguesa, que decorre até quinta-feira.
O ex-ministro, que intervinha num painel sobre “promoção, difusão e projeção da língua portuguesa”, destacou a contribuição do Brasil como “potência emergente” e “ator relevante nos equilíbrios pós-crise” para a elevação do estatuto da língua.
Luís Amado lembrou que até à elaboração do Plano de Brasília para a língua portuguesa, Portugal se sentiu “muito solitário” na sua política de promoção do português e considerou que o Brasil “tem uma responsabilidade incontornável” na promoção da língua.
O responsável sublinhou ainda o potencial de crescimento da língua portuguesa em países como Angola e Moçambique onde, segundo afirmou, existem hoje mais falantes do que durante o período colonial.
“A expansão dos falantes de português nesses países tem sido vertiginosa (…) e esse fenómeno vai continuar a desenvolver-se”, disse, prevendo um aumento da procura pelo português na zona de influência desses países.
Classificando o objetivo da expansão internacional do português como “dos mais ambiciosos”, defendeu que o idioma será “uma alavanca poderosa na projeção dos valores” da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Também interveniente no painel, Pedro Pinto Coelho, embaixador do Brasil junto da CPLP, reconheceu que o seu país não teve até 2010 uma política de língua, considerando que, desde essa altura, se registou ao nível da comunidade lusófona uma “maior consciencialização” da necessidade de promover e defender a língua portuguesa.
O embaixador sublinhou, além do aspeto cultural, o potencial económico e político do idioma.
Intervindo num segundo painel dedicado aos “desafios e políticas”, Pedro Lourtie, professor do ISCTE e membro do Observatório da Língua, defendeu a importância de perceber as motivações dos que querem aprender português para “ter políticas bem-sucedidas e que se possam enraizar nas realidades locais”.
José Paulo Esperança, também professor do ISCTE, traçou um retrato da influência do português, considerando aspetos como o número de obras traduzidas para português, os prémios literários conseguidos por lusofalantes, artigos na Wikipédia ou a presença nas redes sociais.
Para José Paulo Esperança, existe um “soft power” do português que deverá ser reforçado com políticas que apostem na afirmação da língua nos fóruns internacionais, na cooperação entre países lusófonos, na certificação ou no alargamento da oferta de ensino para estrangeiros.
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Foto: Luis Amado em reunião do Banco Africano para o Desenvolvimento, 9 junho de 2011. JOAO RELVAS / LUSA