Portugal-China/500 anos: Primeiro português na China pode ter chegado a ilha de onde hoje partem aviões

Nem todos os historiadores subscrevem a tese dominante de que foi à ilha de Neilinding, a norte de Macau, que chegou Jorge Álvares quando há 500 anos, em 1513, se tornou o primeiro português a chegar à China.

Na versão de dois historiadores chineses, a ilha foi outra e de lá partem hoje aviões para todo o mundo.

“A primeira terra aonde chegaram os portugueses para entrar no mundo chinês é agora o ponto de partida, o novo aeroporto internacional de Hong Kong, Chek Lap Kok, de donde os chineses partem agora para o resto do mundo”, defendem Wu Zhiliang e Jin Guo Ping no livro “Revisitar os primórdios de Macau: Para uma nova abordagem da História”.

No livro, publicado em 2007, escrevem que Tamão foi a primeira terra chinesa que cinco portugueses, encabeçados por Jorge Álvares, pisaram naquele longínquo ano de 1513, sublinhando que “têm sido despendidos muitos esforços na identificação deste topónimo”, que continua a ser polémica e está “longe de ser satisfatória”.

Para a dupla de académicos, “continua-se à espera de uma localização definitiva e conclusiva, com base em fontes chinesas e portuguesas e mediante uma metodologia comparativa”.

Wu Zhiliang e Jin Guo Ping referem o sinólogo japonês Fujita Toyohachi como o “pioneiro” na identificação da Tamão portuguesa como ‘Tunmen’ (Porta da Guarnição Militar). “Utilizando fontes chinesas, ele conseguiu corrigir a identificação do sueco Anders Ljungstedt, que propôs Sangchuan (Sanchoão) como correspondendo à Tamão portuguesa”.

O jesuíta chinês Mauro Fan Hao – a quem é atribuída a identificação e primeira catalogação das ‘chapas sínicas’ depositadas na Torre do Tombo em Lisboa – defendeu que a Tamão portuguesa ficava na província chinesa de Zhejiang, tese que a dupla de autores contesta, por entender que resultou da homofonia entre Tamão e Damaoshan. À versão deste historiador, juntar-se-iam outras também a Oriente e também criadas pelas semelhanças entre sons ou derivações fonéticas.

Entre as várias versões abordadas nos estudos ocidentais sobre o local onde aportou Jorge Álvares, o livro dedica algumas páginas à versão ‘Lingding’ (Ilha Solitária), “identificação que é atualmente a mais corrente na comunidade científica portuguesa, e que foi lançada por José Maria Braga nos finais dos anos 30 do século passado, com o bem famoso “Tamão dos Pioneiros Portugueses”.

“Convém esclarecer que existem ainda hoje duas ilhas Lingding. A Lingding de José Maria Braga é a Xiaolingding (Pequena Ilha Solitária) ou Neilingding (Ilha Solitária Interior)”, sendo “o maior problema” desta tese a “total ausência de referências sobre a presença portuguesa em Xiaolingding no manancial informativo chinês, como destacou S. F. Balfour”, referem os historiadores no livro.

Em esclarecimentos adicionais por escrito à agência Lusa, Wu Zhiliang situa o local onde o mercador português aportou pela primeira vez nas costas da China como sendo próximo à localização onde está hoje instalado o aeroporto de Hong Kong.

“De acordo com fontes náuticas portuguesas credíveis, o Tamão aonde chegou Jorge Álvares em 1513 foi o canal e o porto de Tonqiong, entre a Ilha de Chek Lap Kok, que hoje cedeu lugar ao novo aeroporto de Hong Kong, e a Ilha de Lantau”, indicou, citandos os estudos que efetuou com o colega Jin Guoping.

Para Wu Zhiliang, “trata-se de um braço de mar, que é paralelo ao movimentado Canal de Tunmen, desde a Dinastia Tang (618-907)”, do qual deriva o topónimo português Tamão.

Segundo o historiador, “em fontes chinesas há referências sobre um padrão português” do descobrimento, mas não há sobre a data da sua destruição, não se sabendo, ao certo, como desapareceu.

FV/DM // JMR – Lusa/Fim

 

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