Díli, 24 nov (Lusa) – Timor-Leste tem hoje uma população oriunda de Portugal quase tão grande como a que vivia no território no final de 1974, sendo que hoje a sua composição é muito mais diversa, com uma crescente fatia a trabalhar no setor privado.
Professores e assessores de topo o tipo (destacados em ministérios, departamentos públicos, no Parlamento Nacional e na Presidência da República ou outras instituições do Estado) representam a maior fatia de uma população que poderá rondar entre 2.000 e 2.500 pessoas.
Números exatos são difíceis de confirmar, sendo que a secção consular da Embaixada de Portugal em Díli tem registados 17.154 portugueses dos quais 2.265 oriundos de Portugal.
Mas se esse número pode pecar por excesso – há muitos que já saíram do país e não deram baixa dos registos consulares – também pode pecar por defeito, porque há muitos a viver no país que continuam sem se registar na embaixada.
Note-se, por exemplo, e em contraste com este número que o censo de 2010 só registou 318 portugueses, desconhecendo-se ainda quantos ficaram registados no censo conduzido este ano.
Desde 1999 que, como nunca, a comunidade portuguesa em Timor-Leste tem vindo a consolidar-se, com os veteranos de várias décadas de vida no país (o ‘avô’ Serra, por exemplo, está no país há 51 anos) a terem agora uma segunda leva de residentes longevos: quatro ou cinco portugueses que vivem no país desde pelo menos 2000.
Logos nos primeiros anos pós-referendo, a presença portuguesa era claramente dominada por militares e polícias – chegaram a ser mais de 1.100 – com professores a formarem o segundo grande grupo.
Hoje a composição é muito mais variada com a chegada de novos empresários – alguns que estiveram no país noutras funções, incluindo integrando forças de segurança – e que montaram negócios, de construção civil, serviços ou retalho.
Funcionários de grandes empresas timorenses ou de grandes projetos luso-timorenses, como o Serviço Nacional de Cadastro (SNC, ) ou ligados a empresas como a Ensul, que além da construção civil enveredou nos últimos anos para as grandes superfícies, com a abertura do supermercado ‘mais português’ de Timor-Leste.
Há portugueses que vieram montar um concessionário automóvel, vários que participam em projetos de voluntariado ou apoiam organizações não-governamentais e outros que vieram para abrir lojas, padarias e pastelarias e até espaços para ocupações de tempos livres.
Apesar de ser uma colónia antiga, a presença portuguesa em Timor-Leste nunca foi particularmente numerosa.
Em 1750, 49 anos depois de o primeiro governador português assumir funções em Lifau – a praia onde primeiro desembarcaram portugueses na ilha e a primeira capital de Flores, Timor e Solor – o recenseamento dava conta de apenas 15 europeus na ilha, maioritariamente missionários.
Dois séculos depois, o recenseamento de 1950 confirma que a população portuguesa atingia “568 almas”, com um total de 2.022 mestiços, numa população total de 442.378.
Em 1973, os portugueses oriundos de Portugal – incluindo pessoal das Forças Armadas e familiares – eram quase 3.000.
Os últimos dados disponíveis notam que, no final de 1974, estavam em Timor-Leste cerca de 2.500 homens e 500 mulheres portugueses, a maioria soldados, cabos e sargentos.
É também nessa altura que o Conselho de Ministros e o secretariado do Movimento das Forças Armadas nomeiam o que seria o último governador de Timor português, o tenente-coronel Mário Lemos Pires.
No seu livro, o governador nota que no último período, antes da retirada, estariam em Timor cerca de 5.000 portugueses, um número mais reduzido do que a comunidade portuguesa em Sydney, a maior cidade australiana.
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