Para aprender português, ‘gringo’ leva até 18 meses

“Cari… Cari…Carinhososo?”, pergunta o canadense Sam Dolmaya, 41, à reportagem. “Não consigo pronunciar esse [sic] palavra”, resigna-se o gerente de logística de uma multinacional em um sotaque arrastado.

As dificuldades no aprendizado são muitas. Segundo professores de português consultados pela Folha, um estrangeiro de língua espanhola leva ao menos seis meses para começar a se comunicar plenamente em português. Entre os falantes do inglês, o tempo sobe para um ano; entre os de origem oriental, para um ano e meio.

Esse tempo não é garantia de que a comunicação se dê sem tropeços.

Há dois anos no Brasil, desde então tendo aulas de português três vezes por semana, Dolmaya ainda pede ao assistente que traduza os e-mails de trabalho que envia. “Não é só uma questão de passar do inglês para o português, mas de escrever com o jeitinho certo”, explica.

O canadense perdeu uma reunião por uma confusão de interpretação. O cliente havia dito: “Te encontro lá no escritório”. Ele entendeu que o “lá” se referia ao escritório do interlocutor. O cliente acabou na sala de Dolmaya. E Dolmaya, na do cliente.

Mesmo entre os gringos das classes com níveis mais avançadas, ainda é comum ouvir um “minha amigo” ou “mao” (sem o som nasal marcado pelo til). “O português é muito nasal. Palavras como ‘vão’, ‘mão’ ou ‘cão’ são de pronúncia difícil para o estrangeiro”, explica Graça Paiva, coordenadora do curso de português do Cel-Lep.

A dificuldade na pronúncia costuma ser pior para os falantes do espanhol, devido à proximidade das duas línguas. “Nunca sei se estou falando português ou espanhol”, brinca o mexicano Marcilio Maclean, 21.

“Além disso, quase tudo no português tem masculino e feminino, plural e singular. E os verbos irregulares, como ‘ser’ e ‘estar’ são de uso muito frequente”, conta Graça.

“Quando passamos a dar aulas para estrangeiros, percebemos detalhes que não percebíamos na nossa língua”, diz a professora de português Maria Teresa Bianco, que dá aula para executivos de grandes empresas. Certa vez, um aluno a questionou: “O que vocês fariam sem o verbo ficar?”. “Como falante nativa, jamais tinha percebido o uso exagerado da palavra.” No dicionário Houaiss, “ficar” tem 28 acepções. (MARÍA MARTÍN e TALITA BEDINELLI).

 

FONTE: Agência de Notícias Jornal Floripa

 

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