O projeto, adiantou Isabel Cancela de Abreu, chama-se Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) e pretende ter uma componente comercial e outra de cariz mais social.
Por um lado, a ALER “quer ajudar as empresas a fixarem-se nestes países e a promoverem investimentos a nível privado”, explicou, acrescentando que nos países africanos de língua portuguesa e em Timor-Leste “os investimentos têm sido sempre a nível público”.
Por outro, a associação tem em vista um objetivo social, já que pretende “dinamizar a produção de energias renováveis em zonas rurais e isoladas, normalmente sem ligação à rede”, adiantou a promotora.
Além disso, descreveu Isabel Cancela de Abreu, a associação visa funcionar como consultora, “no sentido de ajudar os governos e as instituições a criar um ambiente regulatório mais favorável ao desenvolvimento deste tipo de negócios”, pelo que “fará recomendações ao nível de políticas públicas”.
Por fim, a ALER “terá uma função agregadora dos interesses comuns e [funcionará] como uma interlocutora do setor de energias renováveis junto de instituições governamentais e de organizações internacionais”, afirmou, defendendo que a associação será “a voz comum das energias renováveis na lusofonia”.
A ideia surgiu quando Isabel Cancela de Abreu se pôs a fazer contas à sua experiência e se inspirou no que viu lá fora.
Engenheira do ambiente com especialidade em energias, foi durante um estágio no Bangladesh que percebeu as necessidades energéticas de alguns países.
“Escolhi as energias renováveis pelo potencial que têm de criar benefícios não só ambientais, não só económicos, mas também sociais”, adiantou, justificando que, para pessoas que não têm acesso a energia e a eletricidade de rede, as energias renováveis são, “neste momento, a solução mais competitiva”.
Em Portugal, Isabel Cancela de Abreu foi, até final de outubro, responsável técnica da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), juntando conhecimentos da área nacional aos de internacional.
Portugal “já atingiu uma posição bastante significativa em energias renováveis e, por razões técnicas e de diminuição do consumo, não haverá muito espaço para novos projetos de energias renováveis”, considerou.
Por isso, e face à necessidade de alargar o negócio para outros mercados, as empresas portuguesas de energias renováveis fizeram “o que é costume: olhar primeiro para os mercados de expressão portuguesa, pelas ligações culturais mas também porque estão em franco crescimento”, disse a especialista.
Portugal “foi [um dos países] pioneiros em energias renováveis” e, por isso, tem “muita experiência” e “muitos produtos que pode levar para esses países”, lembrou ainda.
Por seu lado, referiu, os países lusófonos “têm tido um crescimento demográfico muito acentuado, o que conduz também a um aumento da procura da energia e, portanto, precisam muito deste tipo de soluções”.
Atualmente em fase de contactos com governos e associações empresarias, a ALER tem como meta final possibilitar a criação de um setor privado de energias renováveis nos países lusófonos e servir de canal privilegiado entre os associados (que serão sobretudo empresas privadas) e as entidades governamentais.
“Neste momento, estou a colaborar ativamente não só com a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], mas principalmente com a confederação empresarial da CPLP”, disse a promotora da associação, adiantando prever que a criação oficial da associação acontece a 15 de dezembro.
PMC // PNG – Lusa/Fim
Foto: A Cidade da Praia atingiu um pico de 46 por cento na taxa de penetração de energias renováveis na rede de distribuição de eletricidade, depois de entrar em funcionamento um novo parque eólico. Cabo Verde, 20 outubro 2011. JOSE SOUSA DIAS/LUSA