Assim são chamados no Benin os herdeiros de antigos escravos brasileiros que, livres, retornaram à África. Com festas, sobrenomes e fé importados da Bahia, eles moldaram uma nova identidade para superar o estigma do passado.
Os agudás, como são conhecidos – a palavra deriva de “ajuda”, nome português da cidade de Uidá, movimentado entreposto negreiro da África Ocidental no passado –, integram famílias que descendem de escravos e de comerciantes baianos lá estabelecidos no auge do tráfico humano entre os dois continentes. Possuem sobrenomes como Souza, Silva, Medeiros, Almeida, Aguiar, Campos, entre outros, dançam a “burrinha”, uma versão arcaica do bumba meu boi, e se reúnem nas festas ao redor de uma feijoadá ou de um kousidou. Não raro, os agudás mais velhos se saúdam com um singelo “Bom dia, como passou?”, e a resposta não demora: “Bem, brigado”.
Estima-se que aproximadamente 10% dos 9, 2 milhões de habitantes do Benin tenham ligação com os ex-escravos ou mercadores brasileiros, os quais introduziram ali novos hábitos alimentares e religiosos.
“O português chegou a ser língua franca no Benin na época da implantação da administração colonial francesa”, observa o antropólogo Milton Guran, pesquisador do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, em seu livro Agudás, os Brasileiros do Benin. A escola da Missão Católica de Lyon, que se estabeleceu em Uidá em 1862, ensinava em português aos filhos dos retornados, que levaram para a África negra aspectos da cultura ocidental, como técnicas de arquitetura e engenharia (a alvenaria), festas religiosas, hábitos alimentares (a mandioca, o doce de coco), organização familiar patriarcal e uso de sobrenomes. “A presença brasileira foi tão marcante nesse trecho da costa africana entre os séculos 18 e 19 que poderíamos falar de uma colonização informal”, analisa Guran. “É exemplo único de implantação de uma cultura brasileira – no caso, a baiana – fora de nossas fronteiras.” Ler o artigo completo.