A Obra Completa do padre António Vieira, em 30 volumes divididos em quatro tomos, num total de 15.000 páginas, começou a ser publicada em abril de 2013 e foi considerada, pelo historiador José Eduardo Franco, um dos seus coordenadores, “o maior projeto da história editorial portuguesa”.
Segundo Franco, “das 15.000 páginas, cerca de um quarto são de inéditos ou textos parcialmente inéditos, nomeadamente teatro e poesia, da autoria de Vieira, que até os investigadores desconheciam”.
José Eduardo Franco coordenou a edição com Pedro Calafate, e afirmou à Lusa que o jesuíta, que viveu entre 1608 e 1697, pode ser hoje visto como um “autor anticrise”.
“As soluções que ele apresentou para o país, os escritos dele sobre a nossa mentalidade e os nossos políticos [permitem] dizer que ele é um autor, uma figura histórica anticrise”, afirmou José Eduardo Franco, que acrescentou que Vieira “ainda hoje nos ensina a bem falar, bem escrever e bem comunicar a Língua Portuguesa”.
Na quarta-feira, pelas 10:00 locais (09:00 em Portugal Continental e Madeira), a Obra Completa é oferecida ao pontífice pelo reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, acompanhado por António Nóvoa, ex-reitor. Fazem ainda parte da comitiva “destacados administradores do conselho de administração e coordenadores da direção editorial do Círculo de Leitores” (CL), segundo comunicado desta editora enviado à Lusa.
Em declarações à Lusa, a editora do CL Guilhermina Gomes afirmou que a “publicação desta Obra Completa, ao dar a conhecer a um vasto público a magnificência da prosa do Padre António Vieira, escritor maior da língua portuguesa, foi a grande reabilitação da memória”.
Referindo-se à audiência no Vaticano, a responsável afirmou: “A nossa oferta ao papa Francisco permite o regresso simbólico a Roma do nosso maior pregador”.
Guilhermina Gomes acrescentou que “todos os dias” continuam “a ter no Círculo de Leitores novos subscritores da Obra Completa” e adiantou à Lusa que, a partir do próximo dia 20, “estará em livraria, com a chancela Temas e Debates, a edição de História do Futuro, sendo que, durante este ano, serão publicados mais três livros do autor”.
“A Obra Completa do Padre Vieira continua também com sucesso a ser publicada no Brasil”, acrescentou Guilhermina Gomes.
Em comunicado, o CL salienta que esta audiência papal “assume outro significado”. “Com efeito, os especialistas encontram um grande paralelismo no caráter, nas atitudes, na frontalidade, nos diagnósticos e nas propostas do papa Francisco, formado na Companhia de Jesus, com os do jesuíta António Vieira”, afirma o CL.
A Obra Completa juntou 52 investigadores de várias áreas, de Portugal e do Brasil.
À Lusa, José Eduardo Franco destacou a coragem, o “lado frontal” de Vieira e como este “enfrentou os homens do seu tempo”.
“Ele tem aquilo que eu chamo uma espécie de património de crítica social e política, que ainda é pertinente para os dias de hoje”, disse o historiador que lembrou como o sacerdote, nascido junto à Sé de Lisboa, lutou contra as desigualdades sociais, a opressão do trabalho escravo, criticou a existência de cidadãos de primeira e de segunda, referindo-se ao que na época catalogava como “cristãos-velhos” e “cristãos-novos”, e “criticou as estruturas dominantes de corrupção, por exemplo no sermão do bom ladrão”.
Também na quarta-feira, às 18:00 locais, em Roma, a Obra Completa do padre António Vieira é apresentada na igreja de Santo António dos Portugueses, onde Vieira pregou.
A apresentação está a cargo de Carlos Azevedo, bispo titular de Belali e delegado pontifício para o Conselho da Cultura. O organista titular da igreja, Giampaolo di Rosa, fará alguns apontamentos musicais, e serão recitadas passagens dos sermões italianos de Vieira.
A sessão conta com a presença, entre outros, do embaixador de Portugal junto da Santa Sé, António de Almeida Ribeiro.
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Foto LUSA: Papa Francisco em visita às Filipinas. 18/01/2015. EPA/DENNIS M. SABANGAN