Obra completa de padre António Vieira “é o maior projeto da história editorial portuguesa”

Em declarações à agência Lusa, o historiador realçou que, “destas 15.000 páginas, cerca de um quarto são de inéditos ou textos parcialmente inéditos, nomeadamente teatro e poesia, da autoria de Vieira, que até os investigadores desconhecem”, realçou Franco.

José Eduardo Franco, que coordena a edição com Pedro Calafate, afirmou que o jesuíta, que viveu entre 1608 e 1697, pode ser hoje visto como um “autor anti-crise”.

“As soluções que ele apresentou para o país, os escritos dele sobre a nossa mentalidade e os nossos políticos [permitem] dizer que ele é um autor, uma figura histórica anti-crise”, afirmou José Eduardo Franco, que acrescentou que Vieira “é mais do que um autor que ainda hoje nos ensina a bem falar, bem escrever e bem comunicar a língua portuguesa”.

Os primeiros três volumes são apresentados na quinta-feira, às 18:00, na Aula Magna da Universidade de Lisboa, e na sexta-feira, às 18:30, na sala 2 da Casa da Música, no Porto.

Entre estes títulos, encontra-se “a obra magna de Vieira, que morreu quando a escrevia, que se intitula ‘A Chave dos Profetas’, que corresponde a dois volumes”, e o terceiro intitula-se “Cartas Diplomáticas”, disse Franco.

Os trinta volumes, que serão publicados de dois em dois meses, dividem-se em quatro tomos. O primeiro tomo, “Epistografia”, é coordenado por Carlos Maduro, diz respeito às cartas e inclui cinco volumes.

O segundo tomo, “Parenética”, relativo aos sermões e oratória de Vieira, totaliza 15 volumes e é coordenado por João Francisco Marques. O terceiro, “Profética”, respeitante às profecias do sacerdote, é coordenado por Pedro Calafate, e constituído por seis volumes.

Finalmente, o terceiro tomo, “Varia”, coordenado por José Eduardo Franco, integra quatro volumes e, além de “A Chave dos Profetas”, integra escritos variados, teatro e poesia, além de “projetos de reforma económica e social que entregou ao Rei”.

Em declarações à Lusa, José Eduardo Franco afirmou que “os grandes escritores da Língua portuguesa do século XX e XXI falam sempre da obra de Vieira como a grande escola dos autores [contemporâneos] mais significativos”, e citou José Saramago, segundo o qual “nunca a língua portuguesa foi tão bela, como quando a escreveu esse jesuíta”.

O historiador destacou a coragem, o “lado frontal” de Vieira, e como este “enfrentou os homens do seu tempo”.

“Ele tem aquilo que eu chamo uma espécie de património de crítica social e política, que ainda é pertinente para os dias de hoje”, disse o historiador que lembrou como o sacerdote, nascido junto à Sé de Lisboa, lutou contra as desigualdades sociais, a opressão do trabalho escravo, criticou a existência de cidadãos de primeira e de segunda, referindo-se ao que na época catalogava como “cristãos-velhos” e “cristãos-novos”, e “criticou as estruturas dominantes de corrupção, por exemplo no sermão do bom ladrão”.

“Faz uma crítica notável à corrução em Portugal e nas Colónias, referindo-se à corrupção como uma espécie de cancro que impedia que Portugal progredisse – nada mais atual”, afirmou o historiador.

A Obra Completa de Vieira é um projeto luso-brasileiro, liderado pela Reitoria da Universidade de Lisboa, que envolveu 51 investigadores dos dois países, o que levou José Eduardo Franco a dizer “que, mais uma vez, o padre António Vieira é uma ponte entre os dois povos e as duas culturas”.

 

NL // MAG – Lusa/Fim

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