Estou a pensar na tarefa que os bons amigos do OLP deram-me, a sentir a responsabilidade e a imaginar tantas possibilidades de escrita. Logo vem a mente os bons momentos de um café com amigas e amigos (embora alguns preferissem um chá ou um sumo), momentos de antes da pandemia. Impossível não lembrar e ter a esperança que possamos nos reencontrar em breve. Para conversar amenas ou profundas.
Um café numa esplanada de Lisboa, ou numa quadra de Brasília, a luz do dia, combinado às claras e cuja pauta já era conhecida antecipadamente, democracia e comunicação. O viés da política que nos endossava a pauta e a alma.
A pensar nisso, já aqui tenho ao lado do computador um café, famosa bebida nacional brasileira, tão apreciada em Portugal. Inspiro-me e escrevo este artigo que mais considero uma missiva endereçada às amigas e amigos, sobre o espaço virtual que tanto nos envolve.
É tão paradoxal! Por vezes de aproximação de quem está geograficamente distante, com possibilidade de produções coletivas ou de indivíduos, que por si só propagam e constroem debates. Outras chega a ser um espaço de fortes embates ou mesmo de desinformação. Um espaço (ou não espaço) de encontros, a carregar o melhor do ser humano e, infelizmente, também o seu pior.
Nele somos tomados por uma vontade constante de interagir com o outro, como se estivéssemos ali, ao lado. A socializar o conhecimento e promover o diálogo, acrescido de um tempero especial: no ciberespaço ampliamos a nossa condição de mero público para produtor, ou reprodutor, de opinião e conhecimento. Algo ímpar, onde muitas vezes estamos influenciados pela necessidade de darmos respostas rápidas que o espaço virtual disponibiliza ou exige. Onde podemos incorrer na condição de não saber se estamos a construir ou a consumir e reproduzir informações e ideias alheias.
Consciente da importância de ter a plena compreensão do significado da lógica empregada na comunicação, lembro de uma citação do pesquisador e autor português Luís Reto,“o valor económico da língua resulta sobretudo das economias de rede que lhe estão associadas. Como está bem patente nas redes sociais, as mais volumosas tendem a consolidar o seu predomínio.”
O poder da língua no mundo digital está associado à quantidade de conteúdos que disponibiliza e do quanto é consumida. E, a nossa língua portuguesa ainda tem muito a produzir e disponibilizar. Na internet, há um claro domínio anglófono e chinês, estando o português como quinto idioma dos mais utilizados. Ficamos tristes? Não, apenas alertas sobre os riscos, mas sobretudo das possibilidades.
Queria deixar um ponto de vista pessoal sobre o poder da língua ao favorecer as relações entre os internautas, de permitir acesso a debates e informações, permitir as relações de troca de pensamentos e de construções democráticas. Se 87% das pessoas no mundo usam a internet, devo alertar sobre a existência de uma massa de indivíduos que não possuem acesso integral à rede de computadores, ou são analfabetos digitais, ou desprovidos de literacia mediática. Uma constatação que pode indicar um prejuízo ao acesso dos conteúdos, como ampliar o consumo de desinformação.
Por isso, mais do que uma conversa de café, contribuições a cerca do pleno acesso à internet, com conteúdos e utilização no nosso idioma e em qualquer país de língua oficial portuguesa, é um diálogo sobre o exercício da democracia.
Até a próxima!

Maria Alice Campos

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