O turismo na ilha do Príncipe “tem de ser de qualidade”

Em entrevista à agência Lusa, António José Cassandra referiu, no entanto, que “não vale a pena fazer investimentos pesados no turismo” se a ilha não tiver um bom aeroporto e um bom porto.

Segundo o responsável, o aeroporto está em obras de ampliação da pista, a cargo da construtora portuguesa Mota Engil, e deverá depois ser recuperada a aerogare, num projeto avaliado em 10 milhões de dólares (7, 88 milhões de euros).

António José Cassandra referiu que depois das obras, o aeroporto poderá receber voos internacionais, “com aviões de médio porte, com capacidade para 50 a 60 passageiros”.

O aeroporto da região autónoma do Príncipe tem uma pista de 1.200 metros e no âmbito deste projeto vai passar a ter 1.850 metros, estando esta obra incluída num conjunto de investimentos que a empresa sul-africana HBD Vida Boa fará no país.

Em março de 2012, o Governo são-tomense e o grupo sul-africano HBD Vida Boa assinaram o contrato administrativo de investimento para o Príncipe, nos termos do qual irão ser investidos mais de 86 milhões de dólares (67, 8 milhões de euros) em atividades turísticas, agrícolas e formação de quadros.

A construção do porto, que deverá custar oito milhões de dólares (6, 3 milhões de euros), ainda não está adjudicada.

O presidente do governo regional referiu que hoje não tem dúvidas que a aposta de desenvolvimento para o Príncipe tem de passar por um “turismo responsável e de alta qualidade” porque é um “turismo caro”, sobretudo devido ao custo das viagens.

Cassandra defendeu, no entanto, que se deve apostar num turismo assente na natureza e que a praia “deve ser um complemento”, tendo em conta a beleza natural da ilha, com fauna e flora únicas e que levaram à classificação de reserva mundial da biosfera pela UNESCO, em julho de 2012.

Questionado sobre alguns projetos turísticos que preveem a deslocação de comunidades, o presidente do governo regional referiu que “as roças coloniais, as antigas sanzalas, estão completamente degradadas, não oferecem garantias de segurança para as pessoas poderem lá viver, muitas delas hoje estão abandonadas porque as pessoas estão a sair”.

“Naquelas onde ainda existem lá algumas pessoas, estamos a dar como alternativa construirmos pequenas aldeias ou pequenas vilas com todas as condições para que as pessoas possam viver melhor do que na sanzala e isso é discutido com as pessoas”, disse, acrescentando que “só com o consentimento das pessoas é que os projetos avançam”.

Cassandra deu o exemplo da experiência em Belomonte, em que foi construída uma aldeia fora da roça e foi recuperada a sanzala, onde funciona agora um hotel, referindo que “a condição imposta foi que essas pessoas trabalhassem para o projeto, quer na agricultura, quer na hotelaria”.

“Estas pessoas não tinham emprego, estavam entregues à sua sorte, a viver em casas degradadas e tiveram como opção passar a ter uma casa melhor e ter um emprego. Esta é uma opção correta que só beneficia de facto a própria comunidade”, disse.

VM // PJA – Lusa/Fim





Fotos:

– José Cardoso Cassandra (Tozé Cassandra) presidente do governo autónomo da ilha do Príncipe, 10 de outubro 2014, na Ilha do Príncipe, São Tomé e Príncipe. ANDRE KOSTERS / LUSA

– Crianças em São Tomé e Príncipe

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