O Hífen (III)

Relativamente à utilização do hífen, o texto do Acordo Ortográfico, não sendo tão radical como o de 1986, aboliu-o em certas palavras.

Assim, neste artigo, abordaremos todas as situações em que não deve ser utilizado.

Em primeiro lugar, escrevem-se sem hífen certas palavras compostas que perderam a noção de composição, como, por exemplo, aguardente, bancarrota, fidalgo, girassol, madrepérola, madressilva, mandachuva paraquedas, paraquedista, passatempo, pernalta, pontapé, vaivém, varapau, viandante. Também se escrevem sem hífen os topónimos com os elementos separados, como é o caso de América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta. Escrevem-se ainda sem hífen as palavras compostas com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade semântica e tal elemento começa por consoante, sendo que o m de bem passa a n. Servem de exemplo as palavras benfazejo, benfeito (variação ortográfica de bem-feito), benfeitor, benquerença, malcriado, malditoso, malfalante, malmandado, malnascido, malparado, malparecido, malposto, malvisto.

Regra geral, as locuções (conjuntos de palavras com significado próprio e função gramatical única), escrevem-se sem hífen (a fim de, a par de, à parte, à parte de, à vontade, abaixo de, acerca de, acima de, a fim de que, ao passo que, apesar de, aquando de, cada um, cão de guarda, chapéu de chuva, contanto que, cor de açafrão, cor de café com leite, cor de laranja, debaixo de, depois de amanhã, ele próprio, em cima, fim de semana, logo que, mesa de cabeceira, nós mesmos, por conseguinte, por isso, quem quer que seja, sala de estar). Contudo, urge ter algum cuidado na interpretação deste aspeto (ponto 6 da Base XV), de modo a respeitar o sentido real da palavra, pois o significado de «pés-de-galinha» (rugas) é diferente de pés de galinha (patas). Abordar-se-á, em pormenor, este assunto no artigo da próxima semana.

Quando o segundo elemento começa por consoante (exceto h) ou por vogal diferente daquela com que termina o prefixo, o hífen também desaparece, como se pode verificar nas palavras aeroespacial, agroindústria, antiaéreo, antipatriótico, autoaprendizagem, autoavaliação, autoestrada, extraescolar, hidroelétrico, plurianual.

Nas palavras formadas com os prefixos co-, des-, in-, re-, tendo o segundo elemento perdido o h inicial, não se deve usar o hífen (coabitar, coautor, desumano, desumificar, inábil, inumano, reabilitar).

O mesmo acontece com o prefixo re-, quando o segundo elemento começa por e- (reentrar, reenviar, reencontrar).

Com o acordo ortográfico, quando os prefixos terminam em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, estas consoantes duplicam-se. Assim, passamos a escrever antissemita, contrarregra, contrassenha, extrarregular, infrassom, microrradiografia, minissaia, semirreta.

Com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por consoante que não seja h, m ou n, também não se usa o hífen (circumpacífico, circumpolar, circumportuário, pan-continental, pangermanismo, panléxico, panlinguístico, panromânico).

O mesmo se passa com as palavras formadas com os prefixos hiper- inter- e super-, quando o segundo elemento começa por qualquer letra que não seja r (hiperativo, hipervalorizar, interação, superestrato, superlotar).

As palavras com as formas átonas dos prefixos pos-, pre- e pro- aglutinam-se ao elemento seguinte (pospor, prever, promover).

Relativamente ao verbo haver, nas formas monossilábicas do presente do indicativo acompanhado da preposição “de”, deixa de se utilizar o hífen, seguindo-se o mesmo critério da primeira e segunda pessoa do plural: hei de, há de, hás de, havemos de, haveis de, hão de.

* Professora de Português e formadora do acordo ortográfico

jn.acordoortografico@gmail.com

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