O hífen (II)

Na semana passada, abordámos as regras inerentes ao uso do hífen. Hoje, apontaremos as exceções. Até à data, temos optado por uma postura informativa em relação ao Acordo Ortográfico (AO) e assim pretendemos continuar. Urge, porém, salientar que existem situações com as quais podemos não concordar. E essas situações, muitas vezes, são de difícil explicação.

Deste modo, relativamente às palavras compostas por justaposição sem formas de ligação, os vocábulos “eurodeputado” e “lusodescendente” são exceções, uma vez que se trata do gentílico (“europeu”, “luso”) e do nome (“deputado”, “descendente”).

Ora, as palavras luso-africano, afro-asiático ou afro-luso-brasileiro devem ser grafadas com hífen, uma vez que os elementos são gentílicos (nomes gentílicos, étnicos ou pátrios exprimem “procedência” ou “naturalidade”). Porém, as palavras euroafricano, euroamericano e euroasiático são variações ortográficas sem hífen.

Como vimos na semana passada, os topónimos (nome próprio de um lugar, sítio ou povoação), iniciados pelos adjetivos “grã”, “grão”, por uma forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo, têm hífen. Todos os outros topónimos compostos que se escrevem com os elementos separados não o têm, como é o caso de Castelo Branco e Freixo de Espada à Cinta. No entanto, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri e Timor-Leste são exceções consagradas pelo uso.

Nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas que estejam ligadas por preposição ou qualquer outro elemento, deve-se usar o hífen. Todavia, o nome “malmequer” não segue essa regra excecionalmente, mas a que diz respeito à utilização do advérbio “mal”, segundo a qual não se utiliza o hífen, quando esse advérbio é seguido de um elemento começado por consoante. Ainda em relação aos advérbios, no que diz respeito ao advérbio “bem”, contrariamente ao advérbio “mal”, utiliza-se o hífen em algumas situações consagradas pelo uso, em que o segundo elemento começa por consoante. Assim, temos, por exemplo, “bem-criado”, mas “malcriado”, “bem-visto”, mas “malvisto” ou “bem-mandado”, mas “malmandado”.

O dinamismo da língua prende-se, igualmente, com algumas situações que requerem alguma atenção, pois parecem transgredir as regras que lhe estão inerentes. Vejamos, por exemplo, as palavras formadas com os prefixos (“ante”, “anti”, “contra”, “entre”, “extra”, “hiper”, “infra”, “intra”, “sobre”, “sub”, “super”, “supra” e “ultra”) cujo segundo elemento começa por “h” ou pela mesma vogal com que termina o prefixo. Assim, na semana passada, tínhamos destacado a utilização do hífen nestes casos (“anti-higiénico”, “contra-almirante” ou “super-homem”). A utilização do hífen deve-se à existência de uma vogal ou de um “h” no início do segundo elemento que forma a palavra. No entanto, quando o segundo elemento é um estrangeirismo, um nome próprio, uma sigla ou um acrónimo, utiliza-se sempre o hífen, mesmo que o segundo elemento seja iniciado por uma consoante. Assinalamos as palavras anti-apartheid, anti-Salazar, ou anti-URSS. No entanto, devemos escrever antissalazarismo, uma vez que não se enquadra em nenhuma das situações atrás referidas e o segundo elemento é um “s” que deve dobrar, de modo a manter a mesma sonoridade.

Há ainda muitos outros casos em que se deve utilizar o hífen, com as respetivas exceções. Esses assuntos serão abordados nas próximas semanas.

* Professora de Português e formadora do acordo ortográfico

jn.acordoortografico@gmail.com

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