Namibe, Angola, 10 abr (Lusa) – Junto à faixa litoral no sul de Angola, o deserto do Namibe, o mais antigo do mundo, é um dos potenciais turísticos do país, pela fauna e flora da sua envolvência ou pelas seculares tradições dos povos que dele ainda dependem, mas para quem o vive de perto está quase tudo por fazer para tirar partido da área.
Com as dunas em pano de fundo, Álvaro Baptista, operador turístico do Namibe e um dos fundadores do Centro de Estudos do Deserto explica à Lusa que todos os anos leva “algumas centenas” de turistas, estudantes ou investigadores a conhecer a área. Muitos mais podiam ser, se tal fosse possível até do ponto de vista legal, da ativididade, contrariamente aos milhares de turistas potenciados pelo mesmo deserto, mas do outro lado da fronteira, na Namíbia.
“Acho que falta também alguma vontade no meio disto tudo”, confessa.
De forma simples, o deserto do Namibe, em território angolano, divide-se em zona de dunas e areias móveis, com cerca de 200 mil hectares, sem água e qualquer tipo de condições para criação de gado ou agricultura. É também por aqui que são facilmente encontrados cemitérios por entre as dunas ou edifícios do tempo colonial abandonados e cobertos por areia.
Na área envolvente, que ocupa um terço de toda a província do Namibe, apesar da secura e aridez é possível alguma agricultura e pastorícia, atividades levadas a cabo pelas ancestrais tribos locais.
Pelo meio fica um parque nacional – que agora está a ser reabilitado com alojamento, estradas, abastecimento de água e outras estruturas de apoio básico ao abrigo de programas internacionais -, espécies únicas e o sonho de potenciar o deserto angolano para o turismo.
“Tem apenas condições para o turismo [zona das dunas], quando isso for possível. Porque essas dunas estão no interior do Parque Nacional do Iona e segundo a regulamentação não é possível desenvolver atividades privadas”, explica Álvaro Baptista, de 65 anos e uma vida passada no Namibe, onde construiu um empreendimento turístico e de lazer, na envolvência do deserto.
Além das dificuldades de acessibilidade, com um número muito reduzido de estradas alcatroadas ou sequer acessíveis, além de picadas na envolvente desértica, defende que as visitas guiadas ao centro do deserto podem ser um dos grandes cartazes turísticos de Angola e sobretudo autossustentado.
“Mas para isso é necessário rever a legislação, no sentido de se abrirem algumas áreas (?) reservar-se uma área para se desenvolverem atividades turísticas e com essas receitas ajudar à preservação do parque”, aponta o estudioso do deserto.
Localizado 200 quilómetros a sul da cidade do Namibe, entre o oceano Atlântico, onde chega mesmo ao mar, e os rios Cunene e Curoca, o Parque Nacional do Iona ocupa uma área de 15.150 quilómetros quadrados e é o centro do deserto. Por ali podem ser facilmente avistadas manadas de cabras de leque, zebras avestruzes ou o orix, o símbolo do parque.
Apesar de se tratar de um deserto, a flora é ponto de destaque com a presença, única no mundo (estende-se ao deserto na Namíbia), na sua envolvente, da welwitschia mirabilis, uma planta endémica.
No deserto do Namibe já foram descobertos exemplares desta planta com mais de 2.000 anos.
“Isto é um cantinho muito especial e muito diferente de tudo o que há em Angola. Temos uma fauna muito especializada no deserto e também há animais que só se encontram aqui, como o suricate, a zebra do deserto ou o orix”, sublinha Álvaro Baptista.
Com cerca de 150 quilómetros de costa e estuários fluviais e alcalinizados como um dos limites do parque é comum, em certas alturas, avistar cursos de água por entre área envolvente do deserto, como o rio Cunene, uma das suas fronteiras naturais.
A cultura das tribos do deserto do Namibe, com hábitos e formas de viver ou vestir ainda praticamente ancestrais, totalmente dependentes da pastorícia, é outro dos motivos que explicam o potencial turístico.
“A tribo mais representativa do Namibe são os Mucubai, que têm hábitos muito curiosos. São pastores, mas agora já estão a abraçar a agricultura, porque foram quatro anos de seca. A agricultura está a fixá-los e deixam de estar tão dependentes do nomadismo”, admite Álvaro Baptista, que enquanto elemento do Centro de Estudos do Deserto – fundado pelo já falecido Samuel Aço, porventura o maior estudioso local – conhece de perto estes povos.
Em função das características locais, o deserto é habitado sobretudo pelas tribos himba, tjimba e pelos mucubais, mas com o grosso da população próxima do mar. Há ainda os Vatua, povo que se subdivide etnicamente nas tribos kwepe, kwisi e kuroca.
Quanto ao turismo, Álvaro Baptista garante que é sobretudo uma questão de vontade das autoridades angolanas, que “ainda precisam de fazer muito” para tirar real proveito, sustentável, do deserto do Namibe.
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