O desenvolvimento de recursos digitais exige medidas políticas

António Branco falava numa sessão sobre “Internacionalização e Indústrias Culturais” no último dia da segunda conferência da língua portuguesa, em Lisboa.

“O português é usado no mundo digital, de uma forma cada vez mais disseminada e difundida”, mas o acesso dos falantes a plataformas computacionais e à Internet ainda é “uma questão prioritária em alguns países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)”, disse.

A língua também tem que ser preparada, através de ferramentas que permitam a exploração de acervos ‘online’, a comunicação com outros falantes que não dominem qualquer língua comum com o português, e a interação em linguagem natural com dispositivos automáticos, agentes artificiais e serviços, explicou.

Ou seja, o processamento computacional de uma língua assenta num processamento da fala, através de um mapeamento de um sinal acústico para reprodução simbólica, e num processamento da linguagem, acrescentou.

A criação de ferramentas práticas é crucial para o processamento computacional de uma língua para poder ser usada no mundo digital e existir um processo de internacionalização.

De acordo com estatísticas do ano passado, o português ocupa o quinto lugar entre as línguas utilizadas na Internet, seguindo-se ao inglês, chinês, espanhol e japonês, o que corresponde a 3, 8% dos utilizadores mundiais. Os falantes de português são 3, 7% da população mundial.

A Internet tem uma taxa de penetração de 34, 1% nos oito países da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste). No mundo, esta taxa é de 32, 7%.

“Ocupamos o lugar devido, é apenas o que nos compete fazer e não um feito extraordinário”, sublinhou António Branco.

“As boas notícias, como ser a terceira língua mais usada nas redes sociais como o Twitter e o Facebook, são perigosamente ilusórias e apenas refletem o número de falantes [de língua portuguesa] e tecnologias indiferenciadas”, disse.

“As más notícias são verdadeiramente preocupantes e negativas, uma vez que não se podem importar ferramentas desenvolvidas para outras línguas para o português”, acrescentou.

António Branco afirmou que a preparação tecnológica do português tem que constituir um desafio estratégico prioritário para o período 2014-2020, acompanhado de um programa de estímulo específico interdisciplinar desta área.

Na mesma sessão, o secretário de Estado da Cultura português, Jorge Barreto Xavier, destacou, numa intervenção sobre “Comunicação e Recursos Digitais”, a promoção da cultura dos países de língua portuguesa como “um vetor de cooperação estratégica da CPLP”.

A promoção do valor económico da língua, da arte e indústrias culturais, bem como o incentivo à criação e consolidação de acervos digitais, e o ensino do português através de plataformas digitais constituem fatores de união, embora no respeito das diferenças de cada Estado-membro da CPLP, considerou.

O objetivo da segunda conferência da língua portuguesa é aprovar um documento formal – o Plano de Ação de Lisboa – que incluirá uma introdução de caráter político e programático, a avaliação do Plano de Ação de Brasília (aprovado na primeira conferência em 2010), e as recomendações para o futuro do português, no âmbito de organizações internacionais, no plano da produção científica, da inovação, dos negócios e do empreendedorismo.

 

EJ // JMR – Lusa/Fim

Na foto: António Branco

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