O editor, Pedro Corrêa do Lago, que chegou a adquirir as cartas num leilão da Sotheby’s, decidiu reuni-las numa coletânea organizada por Ricardo Zenith, que marca “um momento muito importante” para “qualquer biografia de Pessoa”.
“Conseguimos com isso publicar pela primeira vez a correspondência completa, a troca epistolar que é muito importante nesta relação amorosa”, explicou o editor, considerando que “os documentos de Fernando Pessoa” revelam “uma faceta importante da personalidade complexa” do autor.
A relação entre os dois, para o editor, “não passou de beijinhos” porque “ela era uma menina perfeitamente encantadora, mas chegou a hora em que ele viu que não estava preparado para o casamento”.
Para Corrêa do Lago, Pessoa “sonhou com uma vida normal” e esta paixão por Ofélia Queiroz “prova isso mesmo”.
No entanto, “a personalidade literária de Pessoa seria mais ou menos a que conhecemos, com ou sem Ofélia”, considera o editor da obra, considerando que esta relação o “humaniza”, retirando-o “da torre de marfim do baú de inéditos” e da imagem de “um homem afastado do mundo”.
“Acho que Pessoa queria ser feliz e encontrar-se num relacionamento amoroso mas por uma série de motivos não era o destino nem a vocação dele”, salientou o investigador brasileiro,
O livro, patrocinado pela PT, inclui um prefácio de Eduardo Lourenço, toda a correspondência trocada e as cartas de Fernando Pessoa estão também preservadas no original, através de ‘fac-simile’.
“A língua portuguesa é um património que nos une a todos” e, por isso, “investimos e viabilizámos este tipo de projetos”, afirmou, por seu turno, Abílio Martins, administrador da PT Brasil.
PJA // SO – Lusa/Fim
Foto: Vários actores que integram o grupo “Hermengarda”, ligado ao teatro A Barraca, passeiam pelas ruas de Lisboa vestidos à imagem do poeta Fernando Pessoa, lembrando que a grande figura do primeiro modernismo português está viva, a 27 de setembro de 1989. António Cotrim / Lusa