Luanda, 19 dez (Lusa) – O Natal é associado, na doçaria, ao bolo-rei e as pastelarias de Luanda, sobretudo portuguesas, não têm mãos a medir com milhares de pedidos das famílias angolanas ao longo de um mês.
Contrariamente ao que acontece em Portugal, onde acontece praticamente durante todo o ano, a venda de bolo-rei em Angola começa apenas em meados de dezembro para se prolongar até finais de janeiro ou início de fevereiro, como explicaram alguns comerciantes de Luanda contactados pela Lusa.
No conhecidíssimo “cabaz de Natal” angolano, distribuídos no final do ano pelas empresas aos trabalhadores, o bolo-rei junta-se ao bacalhau, ao grão-de-bico e ao azeite, componentes típicos da também tradicional consoada.
O bolo-rei não falta na quadra é consumido entre o Natal e o dia dos reis, assinalado a 06 de janeiro, tradição que também se cumpre em Angola, como garantiu à Lusa Raúl Vilas Boas, gerente português da pastelaria Peppers, aberta a sul de Luanda há dois anos.
Este ano, segundo Raúl Vilas Boas, as vendas de bolo-rei ultrapassaram já as de 2014, ano em que chegou a vender perto de três mil unidades do doce típico de Natal a restaurantes, padarias, particulares e mesmo para outras pastelarias.
“É receita tradicional. Massa de pão-de-ló, as frutas secas – amêndoa, noz, pinhão e algumas passas – e as cristalizadas”, apontou o empresário, sublinhando que fora desta quadra só pontualmente um ou outro cliente encomenda o bolo-rei, ao contrário do bolo escangalhado, mais apreciado e vendido ao longo do ano.
Por enquanto, as vendas são apenas para Luanda, mas há já solicitações para o interior do país.
“Já tivemos vários contactos de algumas empresas não só de Luanda, uma mais concretamente do Lobito, que nos pediram para a gente produzir cá, congelar e enviar, mas não temos ainda capacidade, nem de armazenamento, e era preciso umas arcas próprias para os produtos chegarem ao Lobito em condições”, lamentou.
Com mais anos de negócio, o grupo Teixeira Duarte, através dos seus pontos de venda nas pastelarias Nilo, chega a comercializar no natal entre quatro a cinco mil bolos-rei, com distribuições também para hotéis do grupo.
Também nesta pastelaria é seguida a receita tradicional, apenas com o acréscimo do amendoim, para um toque mais local, segundo disse à Lusa o diretor de produção, António Ribeiro.
“Fazemos mesmo a tradicional, aquilo que de vez em quando podemos pôr é a ?ginguba’ por cima, mas de resto é o núcleo do bolo-rei”, confidenciou o responsável, continuando a descrever o aroma do bolo-rei “uma mistura de bebidas, que se incorporam” para aquele seu aroma característico.
Negou ainda que o panetone, bolo igualmente tradicional de época de Natal, de origem italiana e mais recentemente surgido entre os angolanos, seja uma concorrência ao bolo-rei.
“O panetone, se calhar, é aquilo, é um artigo que faça lembrar o bolo-rei durante o ano inteiro, não é bem igual, tem uma massa mais arejada, é mais fofo. O nosso bolo-rei tem essa característica de que se envolve na boca, não é tão seco”, justificou António Ribeiro.
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