Músico Zeca Baleiro prepara novo álbum com “Canções d’Além-mar” de autores portugueses

Redação, 18 jan 2020 (Lusa) – O músico brasileiro Zeca Baleiro tem previsto para março o início da gravação de um novo álbum, “Canções d’Além-mar”, com composições de autores portugueses, antecedendo uma digressão em Portugal, disse o músico à agência Lusa.

A decisão resulta de sucessivas aproximações do músico brasileiro às composições de músicos portugueses, e o primeiro ‘single’ deste projeto, “Às Vezes o Amor”, um original de Sergio Godinho, está já disponível nas plataformas digitais.

“Sou um grande fã da música feita em Portugal e, ao longo dos anos, me aproximei mais e mais desse universo. Há pelo menos 15 anos [que tenho] o projeto de fazer esse disco. Chegou a hora, enfim”, disse Zeca Baleiro à Lusa, a partir do Brasil.

“’Canções d’Além-mar’ é uma declaração de amor à música feita em Portugal, com ênfase na produção das últimas décadas. É parcial como todo o tributo. Não é uma antologia, mas um recorte afetivo do cancioneiro português feito por um músico brasileiro, uma homenagem sincera e apaixonada”, declarou o músico brasileiro.

O interesse de Baleiro pela música portuguesa despertou na década de 1980, quando lhe ofereceram uma cassete, com algumas canções gravadas.

“Uma amiga, Laurinda — por feliz coincidência, o nome de uma linda canção lusitana –-, fez uma cassete com canções de Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho e José Afonso”, recorda Zeca Baleiro, evocando o nome da canção popularizada por Vitorino.

“Tempos depois, no início dos anos 1990, Hiro, amigo designer gráfico que viria a criar a capa do meu primeiro disco, trouxe de Portugal [para o Brasil] o CD ‘Viagens’, de Pedro Abrunhosa e os Bandemónio. Foi assim que a música mais contemporânea produzida na terra de Amália Rodrigues chegou aos meus ouvidos”, prosseguiu o músico, na entrevista à Lusa.

Para o intérprete de “Telegrama”, as expressões musicais portuguesa e brasileira “têm pontos de contacto óbvios”.

“Em geral são muito diferentes”, adverte, esclarecendo, que, “harmonicamente, por exemplo, a música brasileira bebeu muito no jazz, via bossa nova”.

“Já a portuguesa, buscou soluções harmónicas muito específicas, ainda que bebendo de outras fontes como a própria música brasileira, o rock e o blues. Isso a torna um caso muito particular no cenário da música internacional”, acrescentou.

Assim, através destes autores, Zeca Baleiro foi-se aproximando do que, musicalmente, se fazia em Portugal.

Em 1998, um ano depois de lançar o seu CD de estreia, “Por Onde Andará Stephen Fry?”, participou no projeto “Navegar é Preciso”, em São Paulo, no Brasil, série de concertos que tomava para nome o verso de Fernando Pessoa.

“A proposta era promover encontros entre artistas brasileiros e portugueses, e fui escalado para dividir a noite com, vejam só… Pedro Abrunhosa”, lembrou.

A partir de 1999, quando apresentou o seu segundo disco, “Vô Imbolá”, atuou várias vezes em Portugal.

“A cada viagem, voltava carregado de CD portugueses (e africanos também, mas aí já é assunto para outra história), buscando enriquecer meu repertório e tomando contacto com artistas de vários matizes musicais – canção tradicional, rap, rock, fado, música experimental, música pimba, etc.. Alguns desses álbuns e algumas dessas canções trazidos d’além-mar passaram a fazer parte da minha discoteca afetiva, de tal modo que passei a contagiar amigos e familiares com esse repertório”, disse à Lusa.

Entretanto, “em 2000, Sérgio Godinho, em digressão pelo Brasil, assistiu a um ‘show’ meu em Salvador”. “Não nos conhecíamos até então. Depois do ‘show’, conversámos longamente e Sérgio me fez um convite irresistível: participar do ‘show’ que ele faria na Festa do Avante! [em Portugal], no ano seguinte. Foi a minha primeira apresentação para um público massivo em terras portuguesas, que abriu portas para as digressões seguintes, dos discos ‘Líricas’ (2000) e ‘Pet Shop Mundo Cão’ (2002)”, recordou.

A parceria com Sérgio Godinho prosseguiu no disco “Irmão do Meio” (2003), do músico português, “no qual dividimos os vocais de ‘Coro das Velhas’, com a colaboração de músicos da minha banda”.

“Pouco tempo depois participei no álbum ‘Jacarandá’, do guitarrista e compositor Pedro Jóia, interpretando a canção ‘Calçada Portuguesa’ [de Tiago Torres da Silva e Jóia] e, na sequência, fiz um dueto virtual com Teresa Salgueiro, no disco ‘Brizzi do Brasil’, do maestro italiano Aldo Brizzi”.

Baleiro colaborou também com Manuel Paulo, no CD “O Assobio da Cobra”.

Em declarações à Lusa, o músico brasileiro expressou o desejo de haver “uma maior reciprocidade” entre as expressões musicais lusófonas do denominado triângulo atlântico – Portugal África e Brasil.

“Ainda há pouca interação musical entre esses mundos, infelizmente. Alguns projetos estão sendo levados a cabo, o que é ótimo, mas é pouco, diante da grandeza e riqueza desse cosmo lusófono”, afirmou.

Com artistas portugueses, Baleiro prosseguiu as colaborações. No seu quinto álbum de originais, “Baladas do Asfalto e Outros Blues”, de 2005, a edição portuguesa inclui uma faixa-bónus, “Frágil”, de Jorge Palma.

“Nos anos seguintes, fiz colaborações com vários artistas portugueses, como a banda Clã, com ‘shows’ em São Paulo e Lisboa, Ala dos Namorados, para um especial da RTP, Susana Travassos, em ‘shows’ e disco, em Portugal e no Brasil. Em 2010, dividi o palco com Jorge Palma no Rock in Rio Lisboa, numa noite para mim memorável”, contou

Referindo-se ao novo disco, afirmou: “Não foi feito com esta intenção, mas se conseguir aproximar as músicas brasileira e portuguesa, então vou me sentir premiado. Eu lamento que compositores maiúsculos como Sérgio Godinho, Fausto, Jorge Palma e Pedro Abrunhosa não sejam devidamente conhecidos por estas bandas [no Brasil]”.

NL // MAG – Lusa/Fim
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