Para ajudar o visitante a conhecer a evolução da ortografia brasileira, uma exposição vai trazer, em janeiro, a linha do tempo com as principais mudanças já ocorridas. “Pontuando, ano a ano, quando foram adotadas reformas na nossa ortografia e contando um pouco os motivos e as mudanças mais significativas”, explicou.
Para Sartini, exposições como essa auxiliam no aprendizado, mas é preciso um tempo maior para absorver as novidades na língua. “É um processo, mas eu tenho certeza de que, em poucos anos, nós nem vamos lembrar mais o que foi alterado.
Vamos absorvendo essas mudanças com naturalidade”.
Sartini lembra que a última reforma ortográfica no Brasil ocorreu em 1972, pouco depois que ele se alfabetizou. Ele conta que, na época, as mudanças pareciam muito difíceis de ser incorporadas. “Mas, hoje, a gente nem lembra mais o que mudou”.
Foi uma mudança muito pequena. Só tirou os acentos diferenciais, como o circunflexo em colhêr”, completa Maria Helena de Moura Neves, professora da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Luiz Carlos Cagliari, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, conta que a primeira reforma na língua portuguesa ocorreu em 1536. A partir do século 16, as discrepâncias ortográficas entre Brasil e Portugal passaram a prejudicar questões burocráticas, oficias e cartoriais, o que motivou as grandes reformas de 1911 em Portugal e de 1909 no Brasil. “No começo do século 20, estava pronta a primeira reforma sociopolítica e não só acadêmica. De lá para cá houve pelo menos 30 reformas”.
Essas reformas, porém, não surtiram efeitos práticos, uma vez que as pessoas ignoravam a lei. “Antônio Houaiss não se conformava com a história de a gente ter chegado quase lá. Comparando a ortografia de Portugal com a do Brasil, apenas 5% das palavras tinham diferenças ortográficas. Então, ele achava que essas diferenças podiam ser facilmente superadas se Brasil e Portugal fizessem um acordo único”, explica.
Na opinião do linguista, contudo, a ideia de superar as diferenças ortográficas entre as duas nações era uma ilusão de Houaiss. Cagliari comparou a Língua Portuguesa, que tem duas ortografias oficiais, com outros idiomas como o espanhol e o inglês, falados com variações em diversos países. Nesses lugares, porém, não existe uma imposição de leis. “Isso é um absurdo. Não se fazem leis sobre uma coisa que não é objeto de lei, é objeto de cultura”.
Sartini concorda que pode haver uma discrepância entre as reformas impostas por leis e a língua falada. “Há muita discussão em relação à legitimidade desses acordos ortográficos. Ler o artigo completo
Foto: LUSA – Museu da Lingua Portuguesa na Estacao da Luz, S.Paulo, Brasil (24/08/2006). ESTELA SILVA/LUSA