A segunda Mostra de Teatro dos Países de Língua Portuguesa em Macau arrancou hoje com ‘As mãos de Eurídice’, dos portugueses Seiva Trupe, e conta com a participação de cinco companhias da lusofonia.
A peça tem uma especial ligação à cidade — apesar de esta ser a primeira que aqui é mostrada — já que Eurídice e o escritor Gracindo Tavares viajam pelo mundo, parando em locais com jogos de casino, incluindo Macau.
“O protagonista e a sua querida Eurídice passam por várias partes do Ocidente, da Europa, e também passam por Macau. Mas tal como a própria companhia [de teatro], acabam por regressar”, explicou à Lusa o encenador Júlio Cardoso.
Apesar do texto em português, Cardoso garante que “esta é uma peça que foi pensada para ser dirigida às mais amplas camadas de público”, e poderá ser facilmente apreciada por outras comunidades.
Com 42 anos, a Seiva Trupe conta com uma vasta experiência internacional, mas não deixa de salientar a experiência de Macau como única.
“É muito curioso e até direi emocionante (…) chegarmos aqui à China para representar em português. Lembramo-nos de todos os grandes que passaram por aqui, nomeadamente esse homem, esse mestre, essa referência que foi Camões”, sublinhou Júlio Cardoso.
O encenador chamou a atenção para o “espaço belíssimo” que é o Teatro D. Pedro V, onde vai decorrer a mostra: “Confesso que quando aqui cheguei, dei uma volta, olhei para o teatro e foi com uma certa emoção que concluí que é uma bela joia da arquitetura teatral do século XIX”.
“As mãos de Eurídice” faz parte de um conjunto de cinco espetáculos, em cena até dia 21, e que integram a Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, um evento organizado pelo Fórum Macau, com a colaboração do Instituto Português do Oriente (IPOR).
“Pensamos que a mostra pode reforçar a componente de afirmação cultural como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e, por outro lado, entendemos também que o teatro é uma forma de expressão artística que traduz muito a vida e o pulsar das próprias dinâmicas sociais de cada um dos países”, explicou João Neves, diretor do IPOR.
A mostra de teatro destina-se aos falantes de português, mas não apenas aos nativos. A ideia é potenciar o teatro como “forma de interagir com a língua e criar diálogos e competências interculturais”.
Com este evento — “o acontecimento de teatro em língua portuguesa que se realiza mais a Oriente” — o IPOR deseja também aproveitar a presença de atores, técnicos, encenadores, diretores, produtores de diferentes países para “criar redes de contactos e redes de exploração de novas oportunidades”.
Este ano, o IPOR convidou uma companhia de Macau, a Hiu Kok, com mais de 40 anos, que se aliou a um projeto mais jovem, a Macau Art Fusion. A peça “A Cegueira” “é uma metáfora para a toda a mostra mas também para Macau”, já que “ressalva a importância e a conveniência de todos procurarmos grandes plataformas de entendimento, porque todos melhoramos com isso”, explicou João Neves.
De Moçambique chega ‘A Cavaqueira do Poste’, da companhia Lareira Artes, que aborda “a questão das desigualdades sociais, esse mundo que enriquece por um lado mas deixa ficar para trás alguns”.
Os timorenses Tomato Leste levam ao palco ‘Babalú’, com “temáticas como os direitos das crianças e a igualdade de género”.
Por fim, de São Tomé e Príncipe chegam Os Criativos, com a peça ‘O Médico’, que “traz também uma preocupação social na área da questão da violência contra as mulheres”.
Fonte: Cultura ao minuto