Beira, Moçambique 11 mar 2024 (Lusa) – O professor catedrático moçambicano Brazão Mazula afirmou hoje, na Beira, que há “objetivos obscuros” na origem dos grupos terroristas que operam desde 2017 na província de Cabo Delgado, norte do país.
““Obscuros significa que não se vê, o que está por de trás daquilo que aparece. É preciso descobrir esses interesses, para se ter a certeza que os interesses económicos jogam muito na questão”, afirmou Brazão Mazula, antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane e presidente (1999 a 2002) da Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP), em declarações aos jornalistas, na capital da província de Sofala.
Doutorado em História e Filosofia e autor de vários livros, Brazão Mazula diz que é possível combater o terrorismo em Cabo Delgado, mas não apenas pela via militar: “É difícil combater o terrorista, mas é possível combatê-lo. Militarmente por um lado, mas também criando consciências nos cidadãos e nos jovens para não aderirem, porque há exemplos em Cabo Delegado de jovens que nao aderem a estes terroristas”.
Brazão Mazula, que recebeu o título de ‘doutor honoris causa’ na área de Democracia e Harmonia Social pela Universidade Zambeze, na cidade da Beira, aponta as consequências do terrorismo para Moçambique: além da morte e da destruição, o “uso da juventude para matar as pessoas e cidadãos indefesos”, num cenário de “abundância de recursos naturais” na província, mas também desigualdade e pobreza.
“Acho que há muitos interesses, desde a pobreza. Alguns não querem aceitar que a pobreza seja a causa, mas é a pobreza (…). E depois há um tribalismo tremendo em Cabo Delegado, a desigualdade é importante e depois é a droga”, apontou o atual docente da Universidade Eduardo Mondlane.
“Cabo Delgado não é ela só, como província, é a porta de entrada da droga”, apontou ainda Brazão Mazula, que em 1994 foi indicado por consenso e unanimidade das forças políticas como presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique.
A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, provocou 99.313 deslocados em fevereiro, incluindo 61.492 crianças (62%), indicou uma estimativa divulgada esta semana pela Organização Internacional das Migrações (OIM).
O ministro da Defesa Nacional moçambicano, Cristóvão Chume, confirmou em 29 de fevereiro ataques de insurgentes em quatro distritos da província de Cabo Delgado, mas garantiu que não se trata “de um recrudescimento” das atividades terroristas no norte.
“Eu quero dizer que não é isso que está a acontecer, porque se fosse efetivamente isso, estaríamos a dizer que há distritos ou sedes distritais que estão ocupadas, sem acesso das populações. O que aconteceu é que há grupos pequenos de terroristas que saíram dos seus quartéis, lá na zona de Namarussia – que temos dito que é a base deles -, foram mais a sul, atacaram algumas aldeias e criaram pânico”, disse Cristóvão Chume.
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