Lisboa, 22 mar (Lusa) – O ministro da Cultura afirmou-se “deslumbrado” com a programação da segunda edição do Fólio – Festival Literário Internacional de Óbidos, a realizar em setembro, sob o mote da “Utopia”, 500 anos após a publicação do clássico de Thomas More.
“Estou deslumbrado com o programa”, começou por dizer o ministro João Soares, realçando, em seguida, que não é de “cortesias fáceis”, e ofereceu-se para, “em homenagem” a sua mãe, a atriz Maria Barroso, falecida no ano passado, ler “um ou dois poemas” de Ruy Belo (1933-1978), no dia que o Festival vai dedicar ao poeta de “A margem da alegria”.
O governante também elogiou a escolha do tema – “Todos sabem que sou ‘maçon’ há muitos anos, por lealdade aos valores da Revolução Francesa [de 1789], ‘Liberdade, Igualdade e Fraternidade'” -, ressalvando que não gosta muito de rituais nem de aventais, “nem na cozinha”, mas, na Maçonaria, o nome que escolheu como pseudónimo foi “Thomas Morus”, que qualificou como “um homem para a eternidade”, leal aos seus princípios.
Thomas More (1478-1535), o autor de “Utopia”, homenageada nesta edição do Folio, escolheu, para a obra publicada em 1516, um narrador português, o viajante Rafael Hitlodeu.
A programação do Fólio – Festival Literário Internacional de Óbidos foi apresentada hoje, na livraria Ler Devagar, na Lx Factory, em Lisboa, com o escritor José Eduardo Agualusa, curador da Folio Autores, a anunciar que este ano irá haver uma presença maior de escritores não lusófonos, e a prometer não repetir autores nos próximos cinco anos.
O prémio Nobel da Literatura V.S. Naipaul é um dos escritores confirmados para esta segunda edição do Fólio, que conta também com autores do México e da Islândia.
“Levar aos leitores portugueses aquilo que de mais interessante se está a produzir no mundo” é, segundo o escritor José Eduardo Agualusa, a intenção do Festival que, na segunda edição, leva à vila o escritor de “Uma casa para Mr. Biswas”, Vidiadhar Surajprasad Naipaul, vencedor do Nobel da Literatura, em 2001.
Ao autor de 83 anos, natural de Trinidad e Tobago, residente no Reino Unido desde os 18 anos, juntam-se o premiado escritor islandês Jón Kalman Stefánsson e o mexicano Juan Pablo Villalobos, assim como a luso-angolana Djaimilia Pereira de Almeida, investigadora da Fundação para a Ciência e Tecnologia, doutorada em Teoria da Literatura, que publicou o livro de estreia no ano passado, “Esse cabelo”.
Jón Kalman Stefánsson, distinguido pela revista francesa Lire, em 2015, com o prémio de melhor romance estrangeiro publicado em França (“D’ailleurs, les poissons n’ont pas de pieds”/”Além do mais, os peixes não têm pés”), terminou recentemente a trilogia iniciada em “Heaven and hell” (ou “Entre o céu e a terra”, a partir da versão francesa), com o romance “The heart of man” (“O Coração do homem”, em tradução literal).
O mexicano Juan Pablo Villalobos, natural de Guadalajara, está publicado em 15 países, segundo a sua editora brasileira, é o autor de “Festa no covil”, livro publicado em Portugal pela Ahab, viveu no Brasil durante vários anos, antes de se fixar na Catalunha, e, entre as suas obras, contam-se “Quesadillas”, “Down the Rabbit Hole” (“Pela toca do coelho”), “Se vivêssemos em um lugar normal” e “Te vendo um cachorro”.
Às 16 mesas do festival, que vão juntar escritores à conversa com leitores, sentar-se-ão ainda os portugueses Miguel Sousa Tavares, Afonso Cruz, vencedor do Grande Prémio de Conto, por “Enciclopédia da Estória Universal”, e Rui Cardoso Martins, vencedor do Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, com “Deixem passar o homem invisível”.
O festival dedicará ainda um dia ao poeta Ruy Belo, “Homem de palavra(s)”, autor de “País possível”, para o qual várias personalidades se oferecerem para dizer poemas, entre as quais atriz Beatriz Batarda, disse hoje Anabela Mota Ribeiro, uma das curadoras do festival.
Esta edição receberá ainda o projeto “Lire, Vivre & Goûter, un avenir”, dinamizado pela editora francesa Sylviane Sambor, fundadora de “l’escampette”, que tem privilegiado a tradução e publicação de poetas portugueses, como Al Berto e Nuno Júdice.
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