Montepuez, Moçambique, 26 nov 2019 (Lusa) – A empresa que se apresenta como a principal investidora na extração de rubis em Moçambique, a Montepuez Ruby Mining (MRM), tem planos de expansão no horizonte, disse à Lusa o presidente do conselho de administração, Samora Machel Júnior.
“A MRM pretende investir na expansão da unidade de lavagem e na capacidade de mineração do projeto, o que significará maior oportunidades de emprego e redução de pobreza” das comunidades em redor, acrescentou.
O responsável falava à Lusa durante uma visita à mina em Cabo Delgado, província do Norte de Moçambique, promovida para jornalistas.
Dos 15 poços que a MRM possui nos 33 mil hectares de concessão, apenas cinco estão a ser explorados porque são aqueles que fornecem “o que o mercado precisa”, estimando-se que a mina tenha ainda 16 anos de vida útil, tirando partido de algumas das maiores jazidas de rubis do mundo.
Os 12 leilões de pedras preciosas feitos pela empresa do grupo Gemfields desde que entrou em produção, em 2014, já valeram uma receita de 512 milhões de dólares (464,2 milhões de euros), cabendo ao Estado moçambicano um total 121 milhões de dólares (cerca de 110 milhões de euros) em impostos.
Há planos de expansão da atividade, no entanto, a volatilidade dos preços dos rubis no mercado internacional e o garimpo ilegal para o qual muitos jovens são atraídos por intermediários são os principais obstáculos.
“Nós não somos contra o garimpo artesanal. Acreditamos que a mineração artesanal organizada pode ser muito benéfica. No entanto, observamos que há muitos casos em que a é feita sem segurança, não protege o meio ambiente e não paga impostos”, afirmou o presidente da MRM.
Em maio, a empresa denunciou o que classificou de “escravatura moderna” a que muitos jovens são sujeitos, a mando de traficantes de pedras preciosas no mercado internacional, nas jazidas dentro da concessão da empresa.
Para os afastar da pobreza e criar oportunidades, a empresa inaugurou na segunda-feira um centro de formação profissional, onde deverá formar 2.100 pessoas em várias profissões nos próximos sete anos.
A mina de Montepuez foi notícia a nível internacional no início do ano devido a um processo judicial.
Em janeiro, a Gemfields aceitou pagar um acordo extrajudicial de 8,3 milhões de dólares (7,5 milhões de euros) para pôr termo a 273 queixas de mortes, espancamentos e outras violações de direitos humanos junto à mina, executadas por segurança privada e polícias entre 2011 e 2018.
A firma admitiu os acidentes, mas nunca a responsabilidade pelos mesmos.
“A MRM nunca violou os direitos humanos aqui e em nenhum momento a Gemfields aceito a responsabilidade por essas alegações, mas para o beneficio de todas as partes envolvidas optou por um entendimento”, declarou Samora Machel Júnior.
O PCA destaca que, hoje, a relação com a comunidade é “excelente” e que a empresa já disponibilizou perto de três milhões de dólares (2,72 milhões de euros) em projetos de responsabilidade social.
A empresa opera na mesma província afetada por violência armada que em dois anos já matou 300 pessoas, mas que está afastada de Montepuez.
Os grupos armados que nasceram em comunidades muçulmanas radicalizadas têm atacado a região costeira de Cabo Delgado, onde se desenvolvem os projetos de gás natural, cerca de 300 quilómetros a nordeste.
Seja como for, a MRM está atenta, diz Samora Júnior.
“Se situação se alastrar para este ponto será um descalabro. Não é só a empresa que vai perder o investimento, é também uma comunidade que fica desprovida do crescimento social”.
“Como empresa nós estamos a tomar medidas para evitar que algo aconteça, mas também temos estado em contacto com o Governo para ter alguma informação antecipada”, declarou Samora Machel.
Criada em 2012, a MRM é detida em 75% pela Gemfields e em 25% pela moçambicana Mwiriti Limitada, que por sua vez é controlada por Raimundo Pachinuapa, um general veterano da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder desde a independência.
*** A Lusa viajou à mina de rubis de Montepuez a convite da MRM ***