Segundo a lenda transmitida por via oral ao longo dos séculos, já que não há qualquer registo do desembarque do jesuíta, o santo navegava na zona e terá ali parado em busca de água.
Thomas Moa, filho do líder do clã da aldeia de Nagarasong, que faleceu há cerca de cinco meses, diz que se trata de um “mistério”, mas segundo a tradição, quem chegou à aldeia apresentou-se como Francisco Xavier e pediu água aos moradores que recusaram e fugiram para as montanhas, assustados com a diferente cor de pele do viajante.
Em resposta, o santo terá dito: “Eu sou um padre, pedi-vos água, mas vocês não me ajudaram. Por isso, rezo para que nesta área não haja padre até à sétima geração”.
De regresso à praia, Francisco Xavier, que é considerado o primeiro missionário jesuíta nas Flores, “rezou e ao tocar com a vara na pedra surgiu água” da rocha.
Alguns dos habitantes locais espiaram o santo e, após serem surpreendidos com o ‘milagre’, “rezaram e levaram água para casa”, atribuindo-lhe um “poder mágico”, prosseguiu o aldeão de 64 anos.
Desde então, a fonte, agora conhecida como Wair Nokerua (no idioma local, ‘wair’ significa ‘água’ e ‘nokerua’ refere-se a ‘pastor’ ou ‘aquele que vive no celibato’), tem sido um local de rezas e de meditação, sobretudo ao domingo, dia em que é visitada por entre 50 a 100 pessoas, de acordo com Thomas Moa.
Wair Nokerua fica a pontos metros da linha do mar, mas as ondas nunca se misturam com a água da fonte, e é possível encontrar ali pequenas cobras, que os locais acreditam proteger o local.
A praia é de difícil acesso, daí que, num dia de semana se encontrem ali apenas pescadores, alguns com camas e cozinhas improvisadas no areal, uma paisagem que se completa com um pequeno rio no meio dos montes, onde se podem ver búfalos de água e ainda vacas e cavalos a pastar.
“Alguém que tem um pedido especial, que quer pedir ajuda para alguma coisa, pode ir lá e pedir e o pedido será realizado”, vinca Thomas Moa, acrescentando que normalmente os visitantes banham-se na fonte, bebem água e ainda enchem garrafas, porque creem que manter a água em casa preserva o lar.
O filho do líder do clã de Nagarasong conta que há alguns anos um homem trouxe vários carros para levar uma enorme quantidade de água e misturá-la com “fármacos locais”.
A fonte tem atraído pessoas de todos os lados, incluindo noivos antes do dia do casamento ou padres que chegam a levar “mais de 10 litros de água” para benzer.
Em homenagem ao santo espanhol, as pessoas da aldeia, construíram em 1978, pelos seus próprios meios, a capela São Francisco Xavier, que, destaca Thomas Moa, resistiu ao tremor de terra de 1992, que teve uma magnitude de 7.8.
AYN // PJA – Lusa/Fim
Fotos: Indonésias de diferentes idades e até alguns homens rezam e cantam em português, por vezes intercalado com Indonésio, com o auxílio de livros, onde o português aparece escrito na forma mais conveniente para os indonésios, substituindo, por exemplo, “nosso” por “noso”, Flores, Indonésia, 23 de fevereiro de 2014. ANDREIA NOGUEIRA/LUSA
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