Mbanza Congo, Angola, 26 jul (Lusa) – A cidade angolana de Mbanza Congo quer potenciar o turismo com a classificação, este mês, das ruínas da antiga capital do Reino Congo como património da humanidade pelo UNESCO, e prevê disponibilizar mais 300 quartos, em três novos hotéis.
O anúncio foi feito hoje em Mbanza Congo, província angolana do Zaire, durante a cerimónia de apresentação local da declaração de património da humanidade das ruínas do centro histórico da cidade, a primeira classificação do género atribuída a Angola por aquela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura, que aconteceu a 08 de julho.
De acordo com o governador da província do Zaire, José Joanes André, apesar da classificação, o município, com cerca de 170.000 habitantes e que até 1975, no tempo colonial português, se designou como São Salvador do Congo, ainda não tem oferta hoteleira suficiente para o potencial agora criado com a classificação da UNESCO.
“Precisamos de muito mais. Estão em construção mais dois hotéis, cada um com mais de 100 quartos e outro já concluído, com 120 quartos, que está à espera da sua inauguração. Temos as condições praticamente criadas para que o turismo possa vir, vamos começar a trabalhar”, disse o governador da província, acrescentando que também está a ser concluído um plano diretor de turismo e obras de reabilitação nas áreas classificadas em preparação para arrancarem em 2018.
O projeto “Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar”, que tinha como principal propósito a inscrição desta capital do antigo Reino do Congo, fundado no século XIII, na lista do património da UNESCO, foi oficialmente lançado em 2007, mas a sua classificação é culminar de um processo com cerca de 30 anos.
O Kulumbimbi, as ruínas da sé catedral de Mbanza Congo, do século XVI, o primeiro templo católico construído a sul do equador, é o cartão-de-visita desta classificação, assim como o cemitério dos antigos Reis do Congo ou o museu, adaptado do antigo palácio daquela monarquia e que hoje guarda algumas relíquias seculares daquele povo.
É o caso de uma túnica oferecida diretamente pela coroa portuguesa aos reis do Congo, entre outros artefactos de uso diário, à época, ainda conservados e em exposição.
Dividido em seis províncias, que ocupavam parte das atuais República Democrática do Congo, República do Congo, Angola e Gabão, o Reino do Congo chegou a ter 12 igrejas, conventos, escolas, palácios e residências.
Mbanza Congo ficou mesmo conhecida à época pela difusão da escrita e por ser a “cidade dos sinos”, face à conversão dos reis do Congo ao cristianismo introduzido pelos contactos com os portugueses, como recordou a historiadora e antiga ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva.
“Mbanza Congo estava muito à frente no seu tempo”, sublinhou a antiga governante, que conduziu o processo da candidatura angolana, a qual realça que à data da chegada e primeiros contactos com os portugueses, o Reino do Congo tinha há uma avançada organização.
O julgamento tradicional realizado no Lumbu, outro dos espaços do antigo palácio dos reis do Congo, constitui um dos destaques para os turistas, como explicou o diretor provincial de Cultura do Zaire, Biluka Nsakala Nsenga.
Trata-se de uma prática ancestral que consiste num julgamento, com sentença decidida pelas autoridades tradicionais, como disputas normalmente familiares, e que ainda hoje acontece duas vezes por semana em Mbanza Congo.
“Não é só o que muda na vida de Mbanza Congo com esta classificação, mas na vida dos angolanos. Os turistas vão chegar pela porta de entrada que é de Luanda”, insistiu Biluka Nsakala Nsenga, que assume igualmente as funções de gestor daquele centro histórico.
O relatório aprovado pela UNESCO a 08 de julho, além de atribuir por unanimidade a proclamação da candidatura angolana, recomendou igualmente a colaboração com outros países vizinhos na identificação de outros locais e pontos do interesse do antigo Reino do Congo e da rota dos escravos de África para a América, “com potencial” para ser inscrito na lista de património mundial.
Segundo a ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, Mbanza Congo está já a trabalhar nas recomendações que acompanham a decisão da UNESCO, como a realização do primeiro Festicongo, um festival cultural conjunto com os três países influência do antigo Reino do Congo.
Igualmente com a “transmissão das práticas tradicionais do Lumbu às novas gerações”, como “fonte de inspiração das boas práticas e dos costumes” e no “desenvolvimento das indústrias culturais como fomento do turismo e da economia local através da geração do emprego e promoção do desenvolvimento sustentado”.