Manifesto contra Acordo Ortográfico diz que novo modelo abriu caixa de Pandora

Redação, 23 jan (Lusa) – Um manifesto dos “Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990”, que é hoje revelado, afirma que este novo modelo de escrita abriu “uma caixa de Pandora”, criou “um monstro” e “não uniu, não unificou, não simplificou” o uso da língua.

O manifesto, que tem Eduardo Lourenço, António Lobo Antunes e Isabel Pires de Lima entre os subscritores, é dirigido ao Presidente da República, ao parlamento e ao Governo, entre outras entidades, e tem por objetivo “a desvinculação de Portugal ao ‘Acordo Ortográfico’ de 1990, do 1.º e do 2.º Protocolo Modificativo ao AO90 (ou, no mínimo, a sua suspensão por tempo indeterminado)”.

“Requeremos também a revogação imediata da resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, de 25 de janeiro, com efeitos retroativos, apagando os efeitos inconstitucionais e, por isso, nulos, que produziu iniquamente”, afirmam os subscritores.

O manifesto é assinado por mais de uma centena de personalidades, como Maria Teresa Horta, Manuel Alegre e António Garcia Pereira, e cinco associações, entre as quais a Sociedade Portuguesa de Autores.

“O ‘Acordo Ortográfico’ de 1990 (AO90) nasceu de uma ideia imprevidente do então primeiro-ministro, Cavaco Silva, a pretexto de ‘unificar’ ‘as duas ortografias oficiais’ do Português (sic) – alegadamente para evitar que o Português de Portugal se tornasse uma ‘língua residual’(!) -, e de ‘simplificar’ a escrita”, lê-se no texto hoje tornado público.

“Na realidade, o que fez foi abrir uma caixa de Pandora e criar um monstro. O AO90 — a que os sucessivos Governos, com uma alegre inconsciência, foram dando execução —, é um fiasco político, linguístico, social, cultural, jurídico e económico”, sentencia o manifesto.

O AO90, lê-se no manifesto, “teve os efeitos exatamente opostos aos que se propunha: não uniu, não unificou, não simplificou. É um fracasso político, linguístico, social, cultural e jurídico”.

“É também um fracasso económico, pois, ao contrário do que apregoou, não fez vender mais nem facilitou a circulação de livros. Pelo contrário: as vendas caíram”, garante o texto assinado, entre outros, por Vasco Lourenço, Pedro Mexia e Maria Teresa Horta.

“O Português pré-AO90 continua a ser a ortografia utilizada nos dois países luso-escreventes mais populosos (logo a seguir ao Brasil): Angola e Moçambique; o que obriga a duas edições de livros e de manuais escolares por parte das Editoras: uma com e outra sem o AO90”, acrescenta o texto.

“Foi pior a emenda que o soneto”, segundo os subscritores do manifesto, realçando que “a diversidade ortográfica — entre apenas duas variantes do Português: o de Portugal e o do Brasil — nunca foi obstáculo à comunicação entre os diversos povos de Língua portuguesa”, e enfatizam que “nunca foi razão de empobrecimento, mas, pelo contrário, uma afirmação da pujança da nossa língua; o que, aliás, faz dela uma das mais escritas e utilizadas do Mundo”.

Os subscritores, entre os quais se encontram também José Ribeiro e Castro e Júlio Pomar, lembram que “o Inglês tem 18 variantes, e não deixa por isso de ser a principal língua internacional, o francês tem 15 e o castelhano, 21”.

Para os subscritores, como Carlos do Carmo e Boaventura de Sousa Santos, “as ‘aplicações’ do AO90 afastam o Português padrão das principais línguas internacionais, o que só traz desvantagens em termos etimológicos, de globalização e de aprendizagem dessas línguas estrangeiras”.

“O AO90 dividiu a sociedade e as gerações, ao impor uma forma de escrita nas escolas, universidades, instituições do Estado e da sociedade civil — enquanto a esmagadora maioria dos Portugueses continua a escrever com o Português pré-AO90”, conclui o manifesto.

O texto e a petição dos “Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” estão disponíveis em https://www.facebook.com/groups/acordoortograficocidadaoscontraao90/ e em http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=acordoortografico90.

NL // MAG -Lusa/Fim
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