“Mamã Muxima”

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Muxima, Angola, 28 jun (Lusa) – “A carta não é o importante, é o que lá se escreve, o que vai no coração do peregrino. É como se escrevessem diretamente à nossa senhora”, contou à Lusa o padre Albino Gonçalves, que integra uma congregação de missionários mexicana e responsável por aquele santuário, a 130 quilómetros de Luanda, desde 2010.

A vila de Muxima – que na língua nacional quimbundu significa “coração” – foi ocupada pelos portugueses em 1589. Dez anos depois construíram uma fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como “Mamã Muxima”.

Tornou-se ao longo dos séculos numa espécie de centro espiritual de Angola, mas também uma local de visita turística, com o rio Kwanza de fundo.

As cartas que hoje chegam ao santuário, com pedidos de apoio na doença, no trabalho ou para a família, substituíram os apelos à paz, com o fim da guerra civil em Angola, em 2002. Agora, só “nos dias mais calmos”, chegam a ser depositadas cerca de 300 cartas com pedidos dirigidos à “Mamã Muxima”, mas o pároco garante que a resposta é apenas espiritual.

“Não sou eu que respondo”, atira o padre Albino Gonçalves, de 45 anos, desde 1998 missionário em Angola, com a tarefa de compilar as cerca de 5.000 cartas que todas as semanas são deixadas naquele templo.

“É um ritual muito bonito e importante porque ao escreverem, os peregrinos concretizam o que têm no coração, o que os preocupa”, conta.

É o caso de Margarida Cristóvão, de 47 anos, que está de regresso ao santuário onde há cerca de seis meses deixou uma carta a pedir ajuda à “Mamã Muxima” para os constantes desmaios da filha, de 19 anos.

“Devo-Lhe a cura. Estou muito emocionada”, confessou, em conversa com a Lusa, no interior da igreja.

Já Helena Antónia, de 63 anos, chegou à vila da Muxima em peregrinação desde Luanda, para pedir saúde para a família. Algo que faz ?diretamente’ à nossa senhora, até porque não sabe escrever.

“Não gosto de mandar escrever carta porque às vezes falo uma coisa e escrevem outra. Vou pedir diretamente pela minha boca”, brinca, enquanto arruma o espaço envolvente da tenda junto ao santuário, onde fica acampada durante três dias.

Pedidos de resto partilhados pela “vizinha” da tenda do lado, Joana Antónia, de 38 anos, que chega à Muxima para pedir saúde para a família: “Quando estamos aqui sentimo-nos bem e vamos melhor para a Luanda”, garante.

Só na anual peregrinação de setembro, segundo números da Igreja Católica de Angola, chegam à Muxima, a pé, de carro ou barco através do rio Kwanza, um milhão de fiéis.

“Sentem que tem de agradecer, que não podem vir ao santuário de mãos vazias, porque daqui também não vão vazios, saem com a bênção e com a paz no coração”, garante, por seu turno, o pároco da Muxima.

As obras de requalificação daquela vila, previstas pelo Governo angolano e que incluem um novo templo, vão permitir transformar aquele santuário no primeiro com o estatuto nacional em Angola, por decisão da Igreja Católica.

O Executivo angolano decidiu em outubro passado reestruturar o projeto do novo santuário, da autoria do arquiteto português Júlio Quaresma, que prevê a sua implantação numa área de 18.352 metros quadrados, tendo a nova catedral capacidade para acomodar 4.600 devotos sentados, além de contemplar a construção da vila de Nossa Senhora da Muxima.

PVJ // PJA – Lusa/Fim

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