Sevilha, Espanha, 18 set 2019 (Lusa) – As comemorações do V centenário da primeira viagem de circum-navegação do Mundo, entre 2019 e 2022, assinalam um “grande feito” histórico, que teve um caráter “multinacional” e pode ser visto como a “primeira globalização”, defendeu Alfredo Sánchez Monteseírin.
O antigo alcalde de Sevilha (Espanha) Alfredo Sánchez Monteseírin é o comissário que está a coordenar o trabalho da comissão interministerial espanhola para as comemorações do V Centenário da viagem protagonizada por Fernão de Magalhães e Juan Sebastian Elcano, realizada entre 1519 e 1522, e destacou a importância do feito.
“Gostamos de dizer que aquela foi a primeira globalização e, num mundo como o de hoje, ter na mente e consciencializar que vivemos num mundo globalizado é uma coisa que acho que tem a ver com a lembrança daquele tempo, mas também com as aspirações do futuro”, afirmou Sánchez Monteseírin, numa entrevista concedida à agência Lusa, em Sevilha.
Quando muitos países adotam na atualidade visões políticas mais isolacionistas, Alfredo Sánchez Montesirín prefere salientar que a primeira circum-navegação “teve a participação de pessoas de todas as partes” e uma “visão universal”, apesar de ter sido um projeto “da coroa espanhola” que aproveitou o “conhecimento de navegação de Portugal”.
“Qualquer coisa importante ou grande acontecimento sempre pode provocar um certo interesse de patrimonializar e de se apropriar em exclusivo, penso que esse é o erro que estamos a superar. Penso que há muita gente com direito a tentar apropriar-se, mas não em exclusivo, daquela aventura”, disse, afastando polémicas quanto ao mérito da expedição.
Alfredo Sánchez Monteseírin deu o exemplo das cidades andaluzas de Sevilha e Sanlucar, que qualificou como “irmãs” e onde “há gente que alimenta esse tipo de diferenças e disputa”, para questionar: “Como não vai acontecer isso entre Espanha e Portugal?”.
A mesma fonte assegurou, no entanto, que se está a trabalhar desde a comissão interministerial do V Centenário para “que não haja esse problema e enfrentamento”, apesar de haver, reiterou, “gente empenhada, desde posturas muito conservadoras e até patrioteiras, em procurar o conflito”.
As iniciativas conjuntas “a anunciar em breve, por quem de direito”, entre os Governos de Portugal e Espanha, no âmbito das comemorações da efeméride, são prova desse trabalho e permitem “demonstrar a uns e outros – mas sobretudo aos que têm a cabeça mais fechada do ponto de vista do nacionalismo extremo, nacionalismo espanhol”, que não há “coisa mais generosa e mais positiva do que Portugal e Espanha irem de mão dadas”.
“Queremos que as comemorações da Volta ao Mundo sejam um instrumento para defender os postulados da globalização, vamos fazê-lo não só em Espanha, porque a presença do V centenário está já na África do Sul, e vai estar também em pontos por onde passou a expedição”, antecipou.
A divulgação promovida pela Comissão interministerial espanhola vai ser feita com apoio das missões diplomáticas de Espanha nos destinos por onde passou a expedição e através da ação do Instituto Cervantes, que promove a língua castelhana e cultura espanhola no mundo, precisou.
“Queremos fazê-lo de mãos dadas, de forma a que se possa entender que cada um teve o seu papel – a coroa de Castela uma e a de Portugal outra, radicalmente diferente. Mas a vice-presidente do Governo e presidente da Comissão nacional do V Centenário [Cármen Calvo] gosta de falar que é uma façanha ibérica, e alguns lhe fazem críticas por ter esta generosidade”, acrescentou Alfredo Sánchez Monteseírin.