Luxemburgo investiga importância do português no sucesso escolar de emigrantes

O projeto, que vai contar com a colaboração do Instituto Camões, baseia-se num programa já utilizado no Reino Unido, que recorreu a jogos infantis para estimular a linguagem oral no pré-escolar, contribuindo mais tarde para facilitar a aprendizagem da escrita no ensino primário, explicou à Lusa a investigadora Pascale Engel de Abreu, responsável pela investigação da Universidade do Luxemburgo.

O projeto, que recebeu 910 mil euros da Fundação Nacional de Investigação, “vai ser adaptado para português e ajustado ao contexto escolar luxemburguês”, disse a investigadora.

“O estudo assenta em duas teorias: que a aprendizagem da leitura e da escrita dependem da linguagem oral, e de um estudo do Canadá que indica a importância de reforçar a aprendizagem da língua materna”, adiantou.

Na prática, segundo a investigadora, “se as crianças tiverem uma boa base de português, vão ter mais facilidade em aprender luxemburguês ou alemão”, duas das três línguas oficiais do Luxemburgo.

Para demonstrar esta hipótese, professores de português vão desenvolver atividades junto de 84 crianças portuguesas do 1° e 2° ano do ensino pré-escolar, com um grupo de controlo de igual número, elevando o total de participantes para 168, indicou à Lusa Lénia Carvalhais, uma das duas investigadoras portuguesas contratadas para o projeto, que conta ainda com uma investigadora brasileira.

Durante alguns meses, “as crianças vão ouvir histórias em português ou fazer jogos de forma estruturada, numa primeira fase apenas a nível oral, e posteriormente vão aprender, também de forma lúdica, algumas letras do alfabeto, escrevendo o nome, por exemplo”, adiantou Lénia Carvalhais.

Simultaneamente, o grupo de controlo vai desenvolver atividades ligadas à Matemática.

O projeto, que arrancou no início deste mês, está em fase de negociações com o Instituto Camões para “ver a melhor forma de ter os professores disponíveis”, disse a investigadora.

Segundo Lénia Carvalhais, a intervenção nas escolas deverá começar em 2016, e “vai ser feita quatro vezes por semana, durante vinte a 30 minutos por dia”, numa primeira fase de Março a Maio de 2016 e mais tarde de Setembro desse ano a Março de 2017.

A iniciativa, que tem como parceiros a Universidade de Oxford, College of London (UCL) e a Universidade de São Paulo, surgiu após outro estudo da investigadora luxemburguesa Pascale Engel de Abreu ter revelado dificuldades das crianças portuguesas com a língua materna e o luxemburguês.

O estudo, realizado em colaboração com a Universidade do Minho e publicado em 2012 na revista Psychological Science, analisou 80 alunos do segundo ano de escolaridade de famílias portuguesas com baixos rendimentos, metade emigrantes no Luxemburgo e os restantes no norte de Portugal.

A investigação concluiu que as crianças bilingues têm mais facilidade para se concentrar, o que melhora a “capacidade de aprender”, em comparação com crianças monolingues, mas revelou também “dificuldades substanciais na língua materna e no luxemburguês”.

“Estas crianças têm dificuldades em aprender a ler e a escrever, e isto preocupa o Luxemburgo, porque tem um impacto enorme na economia do país e nas vidas das crianças”, sublinhou.

A situação levou a investigadora luxemburguesa, que fala português, a desenvolver um programa “que não seja muito oneroso em termos de tempo e dinheiro e que possa ser implementado no futuro, se a hipótese do estudo se confirmar”, reforçando as competências na língua materna e melhorando a aprendizagem de outras línguas e o sucesso escolar dos emigrantes.

PYA // PJA – Lusa/Fim


Fotos:

– Marc Wilwert (http://semanariocontacto.blogspot.pt/2010_01_01_archive.html)

– bandeiras de Portugal e do Brasil nas janelas. Luxemburgo . 24 de Junho de 2006. LUSA

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