Manuel Andrade, da Editorial Novembro-Edições Cão Menor, que organiza este encontro de artes em conjunto com o município local, explica à Lusa que Roberto Chichorro, pelo conjunto do seu trabalho, “é alguém que representa bem essa abertura lusófona”.
Vivendo desde 1986 em Portugal, o homenageado desta edição da PLAST&CINE, que decorre nos próximos dias 13 e 14, sexta-feira e sábado, centralizada em Lamego, mas envolvendo ainda as cidades da Régua e Vila Real, surgiu para a organização como “o artista indicado para personalizar aquilo que é a Lusofonia” dada a sua origem moçambicana.
Nesta homenagem a Chichorro vão estar os três homenageados das edições anteriores, Emília Nodal, José Rodrigues e Cruzeiro Seixas.
À Lusa, Roberto Chichorro admite “alguma surpresa” pela homenagem, questionando-se com um “porquê eu”, mas aponta como “uma satisfação” que contrasta com a sua “timidez natural” que se manifesta sempre que tem de falar com o público, porque “a pintura são silêncios e riscos”.
Mas o que desarma Roberto Chichorro é a parte do programa que o coloca a trabalhar em conjunto com as crianças, que considera “terem uma criatividade natural tremenda” e com quem “sempre” gostou de estar.
Aos 71 anos, fruto de uma “mistura” de culturas, africana e europeia, Chichorro considera que a sua obra é também fruto dessa miscigenação, e, por isso, vê como natural que a abertura da PLAST&CINE à Lusofonia aconteça em simultâneo com a sua presença em Lamego.
“Quer se queira quer não, nós somos parte da mesma história, onde uns e outros fizeram muito, lutaram muito para poderem ser eles próprios, mas a verdade é que temos estas circunstâncias históricas e culturais comuns”, detalha.
E acrescenta: “Eu defendo uma aproximação genuína, verdadeira, respeitadora de uns e outros (…) porque todos têm a ganhar com essa aproximação”.
Sendo a arte de rua uma das caraterísticas criativas de Roberto Chichorro, como explica Manuel Andrade, o que demonstra a “disponibilidade e o compromisso” do artista com a sua arte e a sociedade, vai estar em Lamego esta semana para, em conjunto com 150 alunos de escolas das três cidades, criar duas dezenas de obras sob a perspetiva da arte de rua.
Além desta homenagem a Chichorro, a PLAST&CINE envolve ainda um conjunto de outras artes, desde a poesia à gastronomia, sendo aqui também a Lusofonia que vai estar em destaque.
Do programa consta ainda uma conferência internacional dedicada ao artista plástico, no Teatro Ribeiro Conceição, sábado, pelas 15:30, com a presença do pintor António Inverno, o eurodeputado Sérgio Ribeiro e do poeta, escritor e jornalista Luís B. Patraquim, bem como a cantora e contadora de histórias Celina Pereira.
Manuel Andrade realça a abertura deste acontecimento anual à Lusofonia como um canal que se abre do Douro ao mundo lusófono.
O responsável enfatiza ainda a perspetiva que está por detrás do projeto e que passa pela ideia de que “esta é uma iniciativa da sociedade”, servindo também para “provar que é possível desbravar caminhos na cultura sem estar à espera de apoios institucionais”.
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Lusa/F
Foto: LUSA (17/09/1997)