“João Villaret – Homenagem” em cena sexta-feira, centenário do nascimento do ator

O espetáculo “João Villaret – Homenagem”, de Carlos Paulo, sobe à cena no Teatro A Comuna, em Lisboa, na sexta-feira, quando se completam 100 sobre o nascimento do ator e declamador.

Em declarações à Lusa, o ator Carlos Paulo afirmou que João Villaret “estava à frente do seu tempo, foi um exemplo muito grande do teatro no século XX” e salientou “a grande ligação que fez da poesia ao teatro de revista”.

No espetáculo, estreado há nove anos em Vila Nova de Gaia, no café Bogani, são recriados “os grandes números que Villaret protagonizou na revista, alguns textos seus inéditos e um poema que António Botto lhe dedicou, quando estavam os dois no Brasil”.

Carlos Paulo sublinhou à Lusa a ligação de Villaret “ao que hoje se chama movimento da lusofonia, e isto nas décadas de 1940 e 1950, ao ter sido o primeiro a divulgar entre nós, poetas moçambicanos, cabo-verdianos, angolanos e brasileiros”.

“No Brasil teve um êxito enorme, todos os artistas mais velhos se lembram dele, foi condecorado pelo Governo brasileiro e – refira-se um facto pouco conhecido – o João Villaret foi o padrinho de teatro da atriz Fernanda Montenegro”.

Sobre o espetáculo que estará em cena, “provavelmente até junho”, no “casarão cor-de-rosa”, na praça de Espanha, em Lisboa, Carlos Paulo afirmou que, entre outros, serão interpretados os poemas “’Procissão’, de António Lopes Ribeiro, ‘Recado a Lisboa’, de António Botto, ‘Quadras soltas’, ‘O número do Santo Antoninho’ que é um sátira maravilhosa ao Salazar, o [número] do Rosa Araújo e da avenida da Liberdade e o ‘Fado Falado’, entre outros”.

Para construir este espetáculo, o ator contou com documentação recolhida por um espetador “que seguiu Villaret e guardou recortes de jornais, programas, etc.”, e teve acesso ao espólio do ator, na posse da família.

João Villaret, que faleceu vítima de uma septicemia há 52 anos, foi “o primeiro divulgador de Fernando Pessoa”, realçou o ator.

À Lusa, Carlos Paulo, de 61 anos, afirmou que “conheceu” João Villaret “a partir das histórias” que lhe contaram os atores Raul Solnado e Laura Alves.

“A Laura [Alves] tinha uma enorme ternura e carinho pelo João [Villaret] com quem estreara o Teatro Monumental, em Lisboa, na peça ‘As três valsas’”.

“Para mim, o [Raul] Solnado é seguidor de Villaret na revista. Foram duas pessoas que perceberam que a revista era muito mais que o humor e a crítica possível à situação político-social”, disse o ator.

Raul Solnado, falecido há perto de quatro anos, deu ao teatro que construiu, em 1968, em Lisboa, o nome do ator, e nele empregou Henrique Vidal que fora secretário de João Villaret.

Referindo-se ao interesse do ator pelo teatro de revista, Carlos Paulo contou que Villaret “não teve qualquer nojo da revista, como acontecia com outros colegas, nem entendeu que esta fosse uma expressão menor”.

À Lusa, Carlos Paulo contou que, a certa altura, “Villaret estava em cena no Teatro Nacional, no Rossio, e ia de táxi até ao Teatro da Trindade, onde entrava numa revista e, no percurso, vestia-se para entrar em cena”.

João Villaret “faz parte da nossa memória coletiva e faz todo o sentido lembrá-lo, quando passam 100 anos” sobre o seu nascimento, defendeu Carlos Paulo.

Carlos Paulo, que partilha o palco com Ana Lúcia Palminha e o músico Hugo Franco, na evocação, realçou que “o primeiro grande sucesso da televisão em Portugal foi o programa de Villaret, no qual ele dizia poesia”.

João Villaret nasceu em Lisboa, a 10 de maio de 1913, cidade onde morreu a 21 de janeiro de 1961.

NL // MAG – Lusa/Fim

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top