João Guerreiro, Reitor da Universidade do Algarve.

Em nome da Universidade do Algarve, dou as boas vindas aos participantes nesta Conferência sobre “Língua Portuguesa, Sociedade Civil e CPLP”.

É com enorme satisfação que a Universidade do Algarve recebe durante o dia de hoje esta Conferência. Trata-se de um evento organizado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o apoio de diversas entidades relacionadas, direta e indiretamente, com a promoção e a valorização da língua portuguesa. Pode até reconhecer-se que é a nossa identidade que está hoje em debate, através de um escrutínio que promovemos sobre o que nos define, a língua, e que abrange o ensino da mesma, a sua difusão pública, o seu valor económico e as perspetivas de futuro desse elemento central das nossas comunidades que é, sublinhe-se, a nossa língua.

O mundo universitário português é, presentemente, preenchido por um elevadíssimo número de estudantes, que têm a língua portuguesa como primeira língua, que, por via das suas irrequietas dinâmicas, acabam por tornar vivo o espaço de ensino superior da CPLP, não obstante as hesitações ainda presentes na ação dos diversos governos. Os professores e investigadores universitários estão apostados também nessa senda e reforçam as colaborações e as redes na área da investigação e das pós-graduações, muitas vezes em contextos multilaterais. Em suma, temos sido agentes ativos na consolidação da língua portuguesa, entendida como um dos veículos preferenciais de cultura e ciência.

Recorde-se que os Ministros da Educação da CPLP adotaram há cerca de dez anos a Declaração de Fortaleza, onde decidiram construir um Espaço do Ensino Superior da CPLP. Assistimos, contudo, a passos excessivamente cautelosos nesse sentido, parece que tentando moderar, de forma forçada, as vontades e também as necessidades de expansão da nossa comunidade científica e do ensino superior.

Permitam-me que evoque o papel da Universidade do Algarve nesse patamar, sempre disponível, no quadro das suas competências e das suas disponibilidades, para integrar esse crescente fluxo de parcerias e de colaborações, sendo inúmeros os projetos comuns que se têm desenvolvido, que estão em curso ou que correspondem a projetos futuros sólidos.

Encontro-me também, nesta sessão, a representar a Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), da qual sou Vice-Presidente do respetivo Conselho de Administração. Cabe-me apresentar as saudações do meu Presidente, Professor Jorge Ferrão, Reitor da Universidade Lúrio (Moçambique), que por questões de agenda não pode estar presente.

Neste domínio, gostaria de sublinhar a linha estratégica da AULP. Esta tem inscrito na sua matriz uma constante evocação da língua portuguesa, por ventura a razão principal da existência desta Associação, e tem permanentemente declarado a necessidade de continuar a valorizá-la, não só como veículo de afirmação cultural, histórica, científica e literária, mas também como elemento de relação entre comunidades existentes nos cinco continentes e de afirmação internacional, reconhecendo-se que se trata de uma das línguas mais faladas no mundo (e a mais falada no hemisfério sul). Hoje em dia, falarão a língua portuguesa mais de 250 milhões de criaturas, sendo o Brasil o colosso que melhor garante a perenidade desta língua como veículo internacional de conhecimento, de cultura e de cidadania.

Esta Comunidade beneficia, é certo, de uma diversidade de nacionalidades e de um feixe de culturas que fazem convergir ambientes naturais diversos com o enriquecimento da língua portuguesa. Esta, por esse motivo evolui, enriquece e incorpora novas realidades, afirmando-se como uma língua viva de que a literatura vai dando testemunho formal. Bastará recordarmos as contribuições, entre outras, de autores como Guimarães Rosa, Saramago, Manuel Lopes, Pepetela ou Mia Couto, alguns destes galardoados com o Prémio Camões, para concluirmos que o controverso Acordo Ortográfico não perturbará este tesouro que coletivamente nos pertence. É igualmente esta diversidade cultural e, simultaneamente, a riqueza da diferença que consolida uma relação que se baseia em séculos de misturas, de viagens, de convívios, de tensões, de conflitos, de irmandades, mas também de trabalho e de saudade.

Poderíamos ainda evocar os vários crioulos espalhados por esse mundo fora, resultantes de uma interessante promiscuidade de povos e de culturas, acolhida em ambientes diferenciados, dos quais resultou uma mestiçagem da língua portuguesa. Nalguns casos, concorrem para processos autónomos de fusão da nossa língua com línguas locais, responsáveis por espalhar componentes da nossa cultura por terras distantes, embora revelem paradoxalmente uma grande proximidade connosco que, às vezes, não conseguimos valorizar tanto quanto gostaríamos ou deveríamos.

Voltando à AULP, entendemos que o acesso generalizado ao conhecimento, à valorização da especificidade das nossas realidades e da afirmação do desenvolvimento das nossas comunidades constitui uma realidade à qual a AULP, desde há alguns anos, está a dar a maior atenção.

Esse é, aliás, o patamar onde navegamos, onde as nossas instituições já garantiram uma enorme teia de colaborações, onde reafirmamos relações com crescente densidade que hoje caracteriza o meio universitário, mas onde a Associação das Universidades de Língua Portuguesa mantém o seu papel de facilitador e de catalisador das atividades que dão suporte e conteúdo ao Espaço de Ensino Superior e de Investigação Cientifica da CPLP.

O próximo passo relevante da nossa Associação incidirá no lançamento das raízes de um robusto Programa de Mobilidade universitária, ideia para o qual o Secretário Executivo da CPLP tem insistido com veemência, mas para o qual necessitamos do apoio decidido da Confederação Empresarial da CPLP. Tentaremos ser simultaneamente pragmáticos e ambiciosos na configuração da proposta desse Programa.

Gostaria de deixar uma saudação a todos os participantes nesta Conferência, manifestando mais uma vez o compromisso da Associação das Universidades de Língua Portuguesa neste caminho de valorização da língua portuguesa e a disponibilidade para utilizarmos esse ativo de cultura e de cidadania no reforço das nossas relações e na afirmação da nossa Comunidade.

A finalizar estas minhas palavras, que traduzem uma saudação de boas vindas e uma aproximação comprometida ao tema desta Conferência, agradeço ao Secretário Executivo da CPLP, Embaixador Murade Murargy, a organização desta Conferência e a escolha da Universidade do Algarve para a sua realização. Esperemos que tenhamos correspondido às suas expetativas e que as reflexões que se realizarão ao longo deste dia possam contribuir para melhor esclarecer o percurso da CPLP.

Registo também a presença do Embaixador Oldemiro Júlio Baloi, representante do Governo de Moçambique, atual Presidente da CPLP, e agradeço o impulso que deu à realização da Conferência.

Um especial agradecimento é devido ao Senhor Ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde, Professor António Correia e Silva, observador atento das realidades dos países da CPLP e amigo de longa data da Universidade do Algarve.

Agradeço igualmente a participação do Dr. Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro, suspeitando que esta sessão é a primeira em que participa após ter assumido aquelas funções, o que traduz, estou certo, o interesse que atribuirá no seu mandato às relações entre a autarquia de Faro e a Universidade do Algarve.

Por último, agradeço o empenho que foi colocado na conceção e organização desta Conferência por parte do conjunto da Comissão Temática da CPLP. Evoco, em representação de todos, o Embaixador Eugénio Anacoreta Correia, o grande impulsionador desta sessão, recordando a nossa amizade fundada numa velha proximidade familiar, bem como o sentido estratégico de convergência de interesses entre as comunidades de língua portuguesa que sempre moldou a sua ação.

Bem-vindos à Universidade do Algarve!

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