Jesuítas portugueses na China “pouco conhecidos”

“Houve uma maneira de contar a história que beneficiava os italianos, os franceses, os alemães, e o que estamos a fazer é voltar às fontes originais. (…) Não vamos negar que aqueles jesuítas também fizeram parte deste encontro entre o oriente e o ocidente, mas a esmagadora maioria dos seus pares eram portugueses missionários. (…) A história mais vasta é assente na presença portuguesa do oriente”, disse Liam Matthew Brockery.

O autor norte-americano falou à agência Lusa à margem da apresentação da versão chinesa do seu livro “Journey to the East – The Jesuit Mission to China”, lançada hoje pela Universidade de Macau.

O livro, publicado em inglês, em 2007, pela Harvard University Press, “trata da obra dos jesuítas na China (…) e traça uma história que tem o seu ponto de partida e o seu ponto final em Macau”, adiantou.

Liam Matthew Brockery considera que “é possível” haver uma maior divulgação do papel dos missionários portugueses nas missões jesuítas na China, mas que para isso “é preciso que mais gente se interesse por ler português para confrontar as fontes originais, que são documentos que estão escritos em português”.

“É preciso ter domínio da língua portuguesa para (…) ser capaz de ler as fontes originais e não depender de traduções que muitas vezes são mal feitas, porque o português não é muito estudado”, sublinhou.

A investigação do autor norte-americano começa no final do século XVI e abrange mais de 100 anos de “encontro cultural e religioso (…) estabelecendo os alicerces do que são hoje as relações internacionais com a China, sobretudo das culturas europeias, e com a presença do catolicismo que é vigente na China desde esta altura”.

Ao contrário de vários investigadores que já abordaram a mesma temática, Liam Matthew Brockery, professor do Departamento de História da Universidade do Estado de Michigan e membro da Academia Portuguesa de História, optou por centrar-se nas fontes portuguesas.

“Os grandes nomes que são associados à missionação da China (são estrangeiros) – o Matteo Ricci, por exemplo, era italiano –, daí que é como se a presença portuguesa fosse esquecida, embora o Ricci tenha escrito muitas cartas em português, que era a língua franca”, salientou.

Para escrever “Journey to the East” Liam Matthew Brockery consultou vários registos em português, incluindo “os documentos que eram copiados no século XVIII, nos arquivos dos jesuítas em Macau, e que estão na biblioteca da Ajuda em Lisboa” e outros “em Roma, nos arquivos centrais dos jesuítas”.

Assim, em vez de nomes como Matteo Ricci, na obra de Liam Matthew Brockery são figuras centrais portugueses como “João Rodrigues, que foi o grande intérprete dos xoguns (comandantes do exército) japoneses, e que passou o fim da vida em Macau, cidade de que foi embaixador na corte chinesa”, afirmou, ao destacar ainda outros missionários como Francisco Furtado, Gabriel de Magalhães e Manuel Mendes.

FV // VM – Lusa/Fim

Foto: Entre 1513 e 2013 temos muitas marcas desses contatos. Marcas vivas, como as que podem ser sentidas no antigo Observatório Astronômico de Pequim. Relembre-se que 1774, o padre português Félix da Rocha foi nomeado como diretor do referido Observatório.

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