Lisboa, 11 dez 2023 (Lusa) – A investigadora brasileira Marcela Santana, autora de uma tese de doutoramento sobre o património em cinco cidades de língua portuguesa, apela a um diálogo internacional em português que salve centros urbanos lusófonos “ameaçados” por diversas razões.
“Os diálogos internacionais são superimportantes” porque existem “inúmeros documentos sobre património”, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), por exemplo, que podem ser desenvolvidos, acrescentou.
A investigadora acredita que esse diálogo seja possível, podendo a discussão ocorrer no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ou no contexto de uma cooperação entre um país e outro, considerou.
Quando se refere a perdas, salienta entre elas as ambientais, e sublinha a importância do planeamento urbano porque esse património está de certa forma “constantemente ameaçado”.
Para autora da tese de doutoramento feita na Universidade de Coimbra, no âmbito do programa de doutoramentos em patrimónios de influência portuguesa, e que recebeu uma menção honrosa do júri dos prémios atribuídos pela Casa da América Latina em Lisboa, uma das grandes ameaças para as cidades que estudou são “as catástrofes ambientais”.
Quando se pensa em “desenvolvimento sustentável, a questão do património urbanístico não pode estar desconectada da questão ambiental”, acrescentou.
A outra ameaça à identidade destas urbes é a desigualdade social, considera.
Marcela Santana centrou a sua investigação nas cidades de Ouro Preto e Rio de Janeiro, no Brasil, Mindelo, em Cabo Verde, e Ilha de Moçambique e Maputo, em Moçambique.
A investigadora quis estudar cidades com escalas e desafios diferentes, mas também centros urbanos onde já existiam políticas de património avançadas e com alguns processos participativos, um critério que a levou “infelizmente” a excluir Luanda, a capital de Angola.
A conclusão, porém, foi que os centros urbanos selecionados têm mais em comum do que diferenças.
“Há uma cultura urbanística comum, dentro do contexto muito ligado à origem colonial, nestes casos de influência portuguesa, e infelizmente onde também se fala de segregação, de exclusão social de uma parte da população, uma história de escravidão e exploração. Então é muito claro em todas estas cinco cidades a divisão dentro dessas malhas urbanas”, afirmou Marcela Santana numa entrevista à Lusa por telefone, a partir de Paris.
Segundo a investigadora, naqueles centros urbanos as áreas “periféricas são excluídas das políticas tanto de património, como das políticas públicas de planeamento urbano e não necessariamente de uma forma oficial, mas são um pouco deixadas de lado”.
Além disso, há também a exclusão “de uma parcela da população”, ou seja, não se está a fazer “uma política que seja sustentável, que seja inclusiva” naquelas cidades, destaca.
De acordo com Marcela Santana, em todas elas “há desafios ambientais, problemas de tempestades tropicais, alagamentos, deslizamentos de terra”.
“Esses desafios ambientais estão muito ligados com a questão urbana”, concluiu a autora da tese “Cidades de Influência Portuguesa: Patrimonialização e Gestão”.
Em todas as cidades que estudou também “houve uma urbanização muito rápida (…) um boom, um auge da urbanização a partir da segunda metade do século XX”, diz.
No Brasil, aquele crescimento habitacional dá-se por causa da industrialização, em Moçambique por causa da guerra e a fuga para as cidades e em Cabo Verde por causa da seca, explica.
Assim, as soluções para estes e outros problemas, passam, segunda a investigadora, por políticas que olhem para “a cidade como um todo”.
O trabalho da investigadora deu “um contributo importante para a discussão sobre o património urbanístico em contextos de influência portuguesa, na base das políticas patrimoniais e de gestão urbana”, realçou o júri que lhe atribuiu a menção honrosa.
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