Interesse turístico pela lusofonia não se compadece com ideia “países irmãos” 

Lisboa, 14 mar (Lusa) – O economista Manuel Ennes Ferreira destacou hoje, em Lisboa, o enorme potencial turístico dos países lusófonos, mas alertou que o interesse de turistas e investidores “não se compadece” com ideias como “países irmãos” com “500 anos de história”.

“O facto de o turismo ser uma atividade que coloca frente-a-frente as pessoas, tem um potencial de maior entendimento e conhecimento das identidades diferenciadas que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O mal é quando apenas se agarra à história e à ideia de que temos 500 anos de história e somos países irmãos”, disse.

O professor do Instituto Superior de Economia e Gestão e especialista em economia africana e desenvolvimento falava à agência Lusa à margem do II Fórum de Negócios e Investimentos Turísticos no Espaço da CPLP, que está a decorrer na Bolsa de Turismo de Lisboa (CPLP).

Durante a sua intervenção, perante uma plateia composta por representantes da área do turismo dos nove países da CPLP, Ennes Ferreira alertou para os riscos de partir dessas “fórmulas politicamente corretas” para achar que existem mercados turísticos naturais e que basta isso para fomentar o interesse de turistas e investidores.

“A única coisa que se pode dizer é que a língua é muito importante”, afirmou.

Por outro lado, o docente assinalou que subsistem grandes obstáculos ao desenvolvimento turístico dos países lusófonos, nomeadamente os africanos, sobretudo relacionados como a instabilidade política, a insegurança ou a falta de infraestruturas.

“A ausência de infraestruturas em qualidade e rapidez que façam diminuir os custos para um turista que se desloca, as viagens de avião não são fáceis, as estradas são inexistentes, falha isto ou aquilo, tudo isto torna os custos incomportáveis e desmotiva um turista quando olha para outras paragens que têm uma oferta de grande qualidade”, declarou.

Por outro lado, a questão da instabilidade política “é uma das primeiras coisas que uma pessoa pensa quando se desloca”, prosseguiu.

“Há países que mostram que, desse ponto de vista, não tem havido problema, como Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, mas depois há outros em que nunca se sabe o que vai acontecer amanhã, como a Guiné-Bissau ou Moçambique. Na parte norte há aquelas complicações [ataques em Cabo Delgado] que desmotivam. São só ali, mas as pessoas tomam a parte pelo todo”, referiu.

O economista defendeu que estas são questões “muito importantes” e sobre as quais é urgente agir, mas assinalou que este é um trabalho de cada um dos países.

“Não há CPLP que se substitua. Pode elaborar programas conjuntos, mas o país ou faz o trabalho de casa, desde a estabilidade política à económica, ou então não consegue”, alertou.

Ennes Ferreira disse ainda que a criação de um “estatuto do cidadão da CPLP” seria “um empurrão” para o desenvolvimento turístico dos países do espaço lusófono, mas mostrou-se convencido de que “vai levar muito tempo” para o implementar.

“Com o tempo e a generalização dos acordos bilaterais vai-se multilateralizando a circulação até chegar ao estatuto”, considerou ressalvando que não será “no curto e médio prazos”.

Integram a CPLP Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor-Leste.

CFF // SR – Lusa/Fim
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