Interesse pelo português aumentou nos EUA por ser uma “língua mundial”

A diretora do programa de português da Universidade da Califórnia, Deolinda Adão, defendeu hoje, em Macau, que o português tem vindo a ganhar terreno nos EUA pelo desenvolvimento das economias do espaço lusófono e por ser “uma língua mundial”.

A investigadora portuguesa falava sobre as perspetivas e desafios do ensino do português nos Estados Unidos, no âmbito de uma conferência internacional que decorre até quarta-feira na Universidade de Macau.

“Nos últimos 20 anos, quase sempre uma das [opções de línguas estrangeiras] é o espanhol e, historicamente, as outras línguas disponíveis têm sido o francês, o alemão e o italiano. E com o declínio destas três línguas, outras têm surgido, como por exemplo, o mandarim e o português”, afirmou durante a palestra.

Em declarações aos jornalistas, Deolinda Adão justificou que o desenvolvimento e mediatismo alcançado pelo Brasil, com a organização eventos desportivos como o campeonato do mundo de futebol (2014) ou os Jogos Olímpicos (2016), assim como a emergência de algumas economias de países africanos de língua portuguesa – particularmente Angola e Moçambique – “também começaram a entrar na mente de uma camada de pessoas nos Estados Unidos que fazem opções de língua”.

“Tudo isso contribui para que o português – que realmente é uma língua mundial – vá ganhar terreno em línguas como o francês e o alemão, que não são línguas mundiais, são línguas restritas a um pequeno espaço geográfico, e a um número limitado de falantes”, acrescentou.

Durante a palestra, a professora citou várias estatísticas da Modern Language Association, que estuda as matrículas nas línguas estrangeiras em universidades norte-americanas, salientando, por exemplo, que enquanto em 1958 havia 582 alunos matriculados em cursos de português nos Estados Unidos, esse número aumentou para 12.415 em 2013.

“A Modern Language Association não considera o português como uma ‘língua menos ensinada’ (less commonly taught), mas o Governo norte-americano considera, o que, para nós, é bom, porque podemos apresentar projetos”, defendeu.

No entanto, a investigadora portuguesa apontou que “a insistência no termo produtividade” nas universidades norte-americanas está a criar entraves ao crescimento da aprendizagem de português no país, tendo dado o exemplo da Universidade da Califórnia onde leciona e por vezes é difícil conseguir formar turmas de português, por serem necessárias pelo menos 35 inscrições na aula.

Já no ensino primário e secundário, as dificuldades estão na falta de professores credenciados, “porque os requisitos são diferentes de estado para estado nos Estados Unidos, o que faz, com que, por exemplo, um professor de português em Portugal não possa lecionar num estado qualquer dos Estados a não ser que exista um protocolo especial”.

“Claro que os leitores do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua estão isentos destas restrições, mas também não estão a ensinar no nível primário e secundário, estão nas universidades, em que há mais flexibilidade. Mas, por exemplo, uma pessoa com um doutoramento em português não pode dar aulas na secundária, nem sequer na primária, o que para nós parece um pouco perturbador. (…) Há uma lacuna de credenciados para esses níveis”, sublinhou.

FV // VM – Lusa/Fim

Foto: Dia de Portugal em Newark. 09 de junho de 2014, Newark, Estados Unidos da América. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

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