“Se tivermos a consciência de que da mesma forma que os admitimos também os podemos sancionar, então até podemos, através de um diálogo mais efetivo e da presença numa organização internacional, ajudar mais o povo da Guiné Equatorial do que tendo-o fora”, disse o embaixador, em entrevista à agência Lusa.
António Monteiro admitiu que a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é “um tema sensível”, mas referiu que muitas vezes se “bilateraliza” o problema como se se tratasse de uma adesão a Portugal.
“É uma questão da CPLP, que deve ser uma organização aberta, não há nenhuma exclusividade”, disse. E lembrou “o escândalo” quando Moçambique aderiu à Commonwealth (organização composta maioritariamente por países que fizeram parte do império britânico).
“A Guiné Equatorial é um país que está ali isolado, e é mais lógico que adira a uma organização de língua portuguesa do que aos outros, nós também temos a ibero-americana onde estamos com os países latino-americanos, portanto há uma proximidade maior que justifica o pedido deles”, referiu.
A Guiné Equatorial, ex-colónia espanhola e um dos maiores produtores de petróleo de África, é liderada desde 1979 por Teodoro Obiang Nguema e é alvo de críticas por parte de organizações internacionais por violações dos direitos humanos.
Em fevereiro, durante um encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP, decorrido em Maputo, foi aprovada uma deliberação que recomenda a adesão plena da Guiné Equatorial, mas a decisão final só poderá ser tomada na próxima cimeira de chefes de Estado e Governo da comunidade lusófona, agendada para julho, em Díli.
António Monteiro defendeu a adesão deste país, desde que cumpra todos os critérios que lhe são exigidos e sobre o regime de Obiang considerou que “os países resistem aos regimes”. “Se não fosse assim, a CPLP também teria de ter rejeitado a Guiné-Bissau, com este regime, com os golpes e assassínios de presidentes e não o fez e fez muito bem”.
Quanto à questão dos direitos humanos, o embaixador sublinhou que a Guiné Equatorial “não é alvo de sanções” e é um país “que está nas Nações Unidas”.
“Se nós falamos com um chefe de Estado, não quer dizer que estamos de acordo com toda a política que ele faz, aliás às vezes não estamos de acordo com políticas de países-membros da UE ou da CPLP e criticamo-los e temos todo o direito a fazê-lo”, disse.
Sobre as críticas de que adesão se deve ao interesse do petróleo, o ex-ministro defendeu que “é melhor que um país venha com recursos”.
“E se nós conseguirmos que esse país use melhor os seus recursos, estando integrado numa organização, então estamos a contribuir para melhorar a vida das pessoas e não apenas para fazermos manchetes nos jornais”, referiu.
Questionado pela Lusa sobre uma notícia divulgada recentemente pelo jornal Sol de que uma empresa da Guiné Equatorial estaria interessada em investir no BCP, António Monteiro, que é presidente do Conselho de Curadores e do Conselho Internacional da Fundação Millennium bcp, referiu que “ninguém no banco tem conhecimento de qualquer proposta nesse sentido”.
“Agora é evidente que se houvesse uma proposta iria ser analisada e ponderada, sobretudo porque aqui no BCP temos não só os interesses dos acionistas, como dos clientes, que têm de ser ponderados em todos os momentos e é isso que fazemos”, disse.
António Monteiro ressalvou que as suas opiniões “não têm nada a ver com interesses” na entrada da Guiné Equatorial na CPLP, mas afirmou: “Se nós pudermos contribuir para que os recursos sejam melhor canalizados em benefício de todos, quer a nível público, quer a nível privado, é nossa obrigação fazê-lo”.
“A minha experiência diz-me que o diálogo e o acompanhamento tem melhores resultados do que a exclusão e a punição e por vezes acabamos por ter dois pesos e duas medidas, muito impositivos com os fracos e muito compreensíveis com os fortes”, disse.
VM // PJA – Lusa/Fim
Foto: António Monteiro. 10 de novembro de 2010. ANTONIO SILVA / LUSA