Instrumento musical e artesanal cabo-verdiano cimboa elevado a património de salvaguarda urgente

Praia, 18 out 2022 (Lusa) – O instrumento musical e artesanal cabo-verdiano cimboa foi hoje classificado como património cultural imaterial de salvaguarda urgente, estando prevista a elaboração de um plano estratégico de valorização de detentores e garantia da sustentabilidade, foi hoje anunciado.

A classificação consta de um Portaria publicada hoje em Boletim Oficial, Dia da Cultura e das Comunidades cabo-verdianas, e que entra em vigor a partir de quarta-feira, com o Governo a referir que a cimboa é um instrumento musical monocórdico mais antigo em Cabo Verde, trazido muito provavelmente pelos escravos africanos, no decurso do tráfico negreiro.

Atualmente, existem instrumentos musicais idênticos em África, no Médio Oriente e na Ásia, enquanto em Cabo Verde antigamente a cimboa era utilizada exclusivamente no acompanhamento do batuque.

“Atualmente é usada também na morna, na coladeira, no funaná, no zouk, entre outros, dependendo apenas do talento musical do executante”, enumerou o Governo, a portaria assinada pelo ministro da Cultura e das Indústrias Criativas Abraão Vicente.

Constituída por uma cabaça, que é preparada, o som da cimboa sai por um orifício ornamentado com vários desenhos, que têm de ficar no lado direcionado ao ouvido do executante.

Segundo a mesma portaria, atual são poucos os tocadores e fabricantes desse instrumento, destacando-se Tomás Mendes Cabral, mais conhecido por Nhu Eugenio Mendi, de 83 anos, o mais velho, mas também Domingos da Ressurreição Andrade da Silva Fernandes, mais conhecido por Pascoal, de 62 anos, natural de São Domingos.

“Artesão e músico, Pascoal é hoje uma referência como executante e fabricante deste instrumento ao qual tem introduzido inovações e melhorias no fabrico”, prosseguiu ainda o documento oficial.

Arlindo Sanches, Roque Sanches, Mário Lúcio Sousa e Gil Moreira são outros percursores que vêm mantendo viva a tradição da cimboa, instrumento que paulatinamente tem caído em desuso pela sua pouca utilização enquanto instrumento de solo.

Em 2011, visando a sua salvaguarda, o Instituto do Património Cultural (IPC) promoveu o projeto “Preservação da memória da cimboa” e este ano um projeto para a sua preservação foi apoiado pelo programa da União Europeia, Procultura, que financia com 7,6 milhões de euros nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.

Para o Governo, mais do que um instrumento, a cimboa é “alma do povo cabo-verdiano”, considerando que a sua elevação a Património Cultural Imaterial de Salvaguarda Urgente “é um passo importante” para a continuação da sua salvaguarda e valorização.

“O Governo de Cabo Verde tem trabalhado no resgate e na recuperação do património cultural imaterial, conferindo uma nova centralidade, colocando-o, novamente, na convivência e no dia-a-dia dos cabo-verdianos”, escreveu o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, que tem levado a cabo várias iniciativas para o “resgate” desse instrumento musical.

Para a sua proteção, o IPC terá de criar e dotar um plano de salvaguarda emergencial visando a sua salvaguarda, nomeadamente a elaboração de um plano estratégico de valorização de detentores e garantia da sustentabilidade do bem classificado, no seu contexto histórico e sociocultural.

RIPE // RBF – Lusa/Fim

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